Genebra — As negociações em Genebra sobre o programa nuclear do Irã
entraram neste sábado em uma fase "muito complicada", devido às
profundas divergências entre os negociadores ocidentais e iranianos.
"As
negociações entraram em uma fase muito difícil e os negociadores
iranianos insistem no direito de nosso país. Nós não estamos prontos
para aceitar um acordo que atente contra os direitos e interesses do
Irã", declarou o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad
Javad Zarif.
"Nós nos opomos a qualquer pedido excessivo", insistiu.
"O
enriquecimento de urânio deve fazer parte de qualquer acordo (...)
Asseguramos que o enriquecimento não irá parar", acrescentou Zarif,
referindo-se a um dos principais pontos de divergência entre as duas
partes.
"As negociações são muito difíceis. É importante ressaltar
que estamos aqui para que as coisas sejam concluídas", ressaltou por
sua vez o chefe da diplomacia britânica, William Hague, antes de se
reunir com seus colegas da França e da Alemanha.
Hague se
encontrou com o francês Laurent Fabius e o alemão Guido Westerwelle para
discutir o avanço das negociações iniciadas na quarta-feira em Genebra
entre o Irã e o Grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França,
Grã-Bretanha e Alemanha).
"Só iremos concluir um acordo, os seis
países envolvidos, que trate os problemas levantadas pelo programa
nuclear iraniano", advertiu Hague.
Referindo-se à história deste
confronto, que já dura mais de dez anos entre o Irã e a comunidade
internacional, o diplomata britânico lembrou: "nós nos lembramos da
história, de como este programa foi ocultado e desafiou os acordos
internacionais".
"É muito importante que o acordo seja (...)
detalhado e abrangente" e "que o mundo inteiro possa ter confiança no
fato de que ele será respeitado", continuou William Hague.
Uma
opinião compartilhada por Guido Westerwelle, para quem "há uma chance
realista (de se chegar a um acordo), mas que ainda há muito trabalho".
Zarif também considerou ser "muito cedo" para julgar o resultado das negociações.
O
secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu pouco depois de
sua chegada a Genebra com a chefe da diplomacia da União Europeia,
Catherine Ashton.
Em seguida, Kerry discutiu com o ministro
francês Laurent Fabius, cuja "inflexibilidade" não permitiu um acordo
durante o ciclo anterior de negociações, concluído em 9 de novembro.
Progressos
Em sua chegada, Laurent Fabius reiterou que desejava "um acordo sólido" e que tinha vindo "para trabalhar".
Kerry
deve ainda se reunir com o seu colega russo, o chefe da diplomacia
Sergei Lavrov, que encontrou sexta-feira à noite em Genebra Mohammad
Javad Zarif.
Lavrov considerou que, "pela primeira vez em muitos
anos, o (grupo) 5+1 tinha uma chance real de chegar a um acordo", em
declarações divulgadas neste sábado pelo seu gabinete.
Os
diplomatas do Irã e do Grupo 5+1 negociam desde quarta-feira um acordo
provisório para limitar o controverso programa nuclear do Irã, em troca
de um alívio das sanções impostas à República Islâmica.
Progressos
Sexta-feira
à noite, o chefe dos negociadores iranianos Araqchi considerou que as
posições de cada parte se aproximaram. "Nos aproximamos de um acordo em
grande medida, mas apesar dos progressos realizados hoje, ainda restam
temas importantes pendentes" para resolver, disse, citado pela agência
de notícias Mehr.
As negociações se baseiam em um texto de 9 de
novembro, redigido durante a rodada anterior de negociações, que
terminou sem acordo.
Este projeto de acordo temporário de seis
meses, que, segundo uma fonte ocidental, seria renovável, prevê que o
Irã limite seu programa nuclear em troca da suavização das sanções
internacionais contra o país.
Um dos principais assuntos sobre a
mesa é o futuro das reservas iranianas de urânio enriquecido a 20% (a
barreira a partir da qual é possível obter rapidamente uma porcentagem
de 90%, que permite a fabricação de uma bomba nuclear).
Poucas coisas foram reveladas sobre as sanções econômicas que atingem o Irã.
De
acordo com estimativas de fontes americanas, o Irã perde 5 bilhões
dólares a cada mês e já teria perdido cerca de US$ 120 bilhões devido a
essas sanções. Mais de 100 bilhões de ativos iranianos estão congelados
em bancos em todo o mundo.
O alívio "limitado" e "reversível" das
sanções poderia resultar em um descongelamento de alguns desses ativos,
os números variam entre 6 e 10 bilhões pelos seis meses. Ao mesmo tempo,
devido à manutenção do embargo ao petróleo o Irã perde cerca de 30
bilhões.
Para Israel este acordo "é ruim. Se for assinado, ainda
restará muita coisa a fazer para confrontar o Irã ao dilema: a bomba ou a
sobrevivência" do regime, considerou o ministro israelense da Defesa,
Moshé Yaalon.
AFP