A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada o projeto de lei do
Marco Civil da Internet - uma espécie de "constituição" que vai reger o
uso da rede no país.
A questão vem sendo debatida no Brasil desde 2009, mas emperrou em
alguns pontos, como o da neutralidade dos dados na internet, o
armazenamento de dados no país e a questão da responsabilidade dos
provedores sobre conteúdos produzidos por terceiros.
O Marco Civil proíbe o acesso de terceiros a dados e correspondências
ou comunicação pela rede. Ele também busca garantir a liberdade de
expressão e a proteção da privacidade e dos dados pessoais.
Um ponto-chave é a chamada neutralidade da rede, que evita a
discriminação da informação. Ou seja, os provedores não poderão dar
prioridade a um determinado tipo de dado ao transmiti-lo aos clientes,
bloqueando a possibilidade de censura.
O projeto também pretende resguardar o direito de expressão dos
internautas, ao prever que o conteúdo publicado só seja retirado após
ordem judicial. Há exceções, como em casos de racismo, pedofilia ou
violência.
O projeto agora segue para o Senado e, em seguida, para a sanção presidencial.
Confira abaixo perguntas e respostas sobre o Marco Civil da Internet e sua votação na Câmara.
O que é o Marco Civil da Internet?
O projeto de lei 21626/11 - conhecido como Marco Civil da Internet - é
um projeto de lei que estabelece princípios e garantias do uso da rede
no Brasil. Segundo o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), autor da
proposta, a ideia é que o marco civil funcione como uma espécie de
"constituição" da internet, definindo direitos e deveres de usuários e
provedores da web no Brasil.
O marco civil proíbe o acesso de terceiros a dados e correspondências
ou comunicação pela rede. Ele também busca garantir a liberdade de
expressão e a proteção da privacidade e dos dados pessoais.
Molon ressalta que o marco civil é "apenas um primeiro passo em
direção a uma legislação sobre internet no país", mas que não encerra o
assunto.
"É uma espécie de lei guarda-chuva, uma lei maior debaixo da qual
virão depois outras leis regulando ou determinando áreas específicas da
internet, como por exemplo o comércio eletrônico."
Por que o projeto demorou tanto para ser votado?
Entre os pontos de discórdia que emperraram as discussões, há dois que se destacam.
O primeiro diz respeito à questão da chamada neutralidade da rede,
que veta a venda de pacotes que restrinjam o acesso à internet.
O segundo ponto recai sobre a polêmica sobre o armazenamento de dados
dos usuários no Brasil, ainda que a empresa seja estrangeira.
Quem é contra a neutralidade da rede?
O projeto aprovado na Câmara proíbe totalmente os provedores de
internet de vender planos que façam diferenciações no tráfego de dados
ou que selecionem o conteúdo a ser acessado. Com a aprovação do Marco,
ficou vetado por exemplo, a venda de um pacote permitindo utilizar
somente acesso a e-mails e sites de notícias.
O princípio é que as empresas não podem fazer distinções no tráfego
de dados em suas redes por conteúdo, origem, destino ou serviço,
tratando todo tipo de dado da mesma forma.
Algumas empresas de telecomunicação queriam poder vender pacotes de
assinatura de internet, inclusive para celular, limitando o acesso a
alguns sites, como redes sociais. Isso permitiria cobrar mais caro para
que os celulares tenham acesso a mídias sociais.
Na redação final do projeto na Câmara, ficou determinado que, para
regulamentar o tema, a Presidência deverá ouvir a Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) e o Comitê Gestor da Internet (CGI). A versão
anterior dizia que isso poderia ser feito apenas com um decreto
presidencial, sem consultas extras.
Por que houve polêmica sobre armazenamento de dados?
Segundo a proposta inicial de Molon, o Executivo poderia obrigar que
operadoras de internet e sites de grande porte - caso do Facebook ou
Google - armazenem todo seu banco de dados no Brasil, ainda que a
empresa fosse estrangeira e tivesse somente uma filial no país.
No entanto, entre os pontos retirados na versão final aprovada pela Câmara, está o fim da
exigência dos chamados "data centers" no Brasil para armazenamento de dados.
A presidente Dilma Rousseff incluiu no texto original esse ponto após
o escândalo da espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança dos
Estados Unidos).
A intenção do governo era a de impedir que os dados fossem estocados
em servidores estrangeiros, como é hoje efetivamente, a fim de
dificultar o acesso desses dados por serviços de inteligência.
Pelo projeto de lei, quais são os direitos dos usuários?
Os usuários de internet no Brasil têm direito a:
- Inviolabilidade e sigilo de suas comunicações. Só ordens judiciais para fins de investigação criminal podem mudar isso;
- Não suspensão de sua conexão, exceto em casos de não pagamento;
- Manutenção da qualidade contratada da sua conexão;
- Informações
claras nos contratos de prestação de serviços de operadoras de
internet, o que inclui detalhes sobre proteção de dados pessoais;
- Não fornecimento a terceiros sobre registros de conexão à internet.
E quais são os deveres do provedor?
Os provedores são obrigados a manter os registros de conexão sob
sigilo em ambiente seguro por um ano. Esses dados só podem ser
disponibilizados por ordem judicial.
O Marco Civil estabelece que a guarda de registros seja feita de
forma anônima. Ou seja, os provedores poderão guardar o IP, nunca
informações sobre o usuário. Quem responde pelo conteúdo publicado na
internet?
Os usuários respondem pelo conteúdo que publicam.
Os provedores de acesso (responsáveis por oferecer o serviço de
conexão à internet aos usuários) não podem ser responsabilizados por
danos decorrentes de conteúdo gerado por usuários.
Já os provedores de conteúdo - no caso, quem administra os sites da
internet - só serão responsabilizados caso não acatem no prazo correto
decisões jurídicas específicas de retirar do ar conteúdos gerados pelos
usuários.
O que o Marco Civil fala sobre os governos?
O Marco defende que os governos em todas as instâncias devem dar
prioridade a tecnologias, padrões e formatos abertos e livres; divulgar
publicamente dados; desenvolver ações de capacitação para o uso da
internet; e estabelecer mecanismos de governança transparente.
O projeto de lei também diz que o governo deve usar a internet para promover a educação e o fomento cultural.
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