A água fornecida em João Pessoa pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) apresenta contaminação por substâncias que ainda não constam nas portarias reguladoras do Ministério da Saúde, mas que podem ser potencialmente nocivas à saúde humana.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado no Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), encontraram cafeína e atrazina (uma espécie de agrotóxico) nas amostras analisadas.
Os resultados obtidos pelo estudo demonstram que os mananciais estão contaminados por esgoto e que as estações de tratamento, por sua vez, não estão dando conta de remover esses e outros compostos da água que chega às torneiras das casas. De acordo com o professor Wilson de Figueiredo Jardim, coordenador da pesquisa, a presença de cafeína, por si só, já é um dado relevante.
“A cafeína funciona como uma espécie de ‘traçador’ da eficiência das estações de tratamento de água. Ou seja, onde a cafeína está presente, há grande probabilidade da presença de outros contaminantes”, explica ele, ressaltando que, por não estarem na lista das proibidas, essas substâncias não são monitorados com frequência. “Isso é a prova inequívoca de que estamos praticando o reuso de água há muito tempo”, destacou.
O estudo foi realizado também em outras 15 capitais, onde foram encontradas outras substâncias, como a fenolflaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal). O trabalho de análise da água potável fornecida nas 16 cidades contou com a participação de 25 pesquisadores, inclusive da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Danos ao organismo
Segundo a pesquisa, a ciência ainda não sabe ao certo qual o limite de proteção ao ser humano e nem que efeitos danosos eles podem causar ao organismo do homem. No entanto, estudos científicos já apontam que esses compostos têm causado sérios danos aos organismos aquáticos. “Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixes, alteração de desenvolvimento de moluscos e anfíbios e decréscimo de fertilidade de aves”, ressaltou Wilson Jardim.
Cagepa diz que faz tratamento
Segundo João Bosco Rodrigues, químico e subgerente do Controle de Tratamento e Água do Litoral da Cagepa, várias etapas compõem o processo de tratamento da água em João Pessoa, para torná-la limpa e potável. O químico explica que, para a água chegar às torneiras, ela passa por três importantes procedimentos: a coagulação, a floculação e a decantação.
“A água bruta puxada do rio vai para estação de tratamento, onde, em primeiro lugar, ocorre a coagulação, em que é derramado o sulfato de alumínio que irá aglutinar as matérias orgânicas (as impurezas). A floculação irá juntar essas substâncias na superfície e, já na decantação, essas substâncias se concentram no fundo do tranque, onde são removidas. A água limpa segue para ser filtrada em outra estação com areia e carvão, onde saem 95% das impurezas que não foram eliminadas durante as outras etapas. Após esse procedimento, fazemos a aplicação do cloro, que mata as bactérias, e da cal, que neutraliza a acidez da água, deixando-a própria para o consumo”, destacou.
Impurezas aumentam com chuvas
De acordo com Sisenando Mendes de Sousa, engenheiro químico da Cagepa, no período chuvoso da Capital, os técnicos intensificam o monitoramento nas estações e duplicam a aplicação de substâncias para tratar a água. “No período chuvoso, a água chega a ficar com até 70% a mais de turbidez (impurezas) do que no verão. Por conta disso, temos que dobrar e, às vezes, até triplicar a aplicação de sulfato, do cloro e da cal”, disse.
Sisenando Mendes ressalta ainda que os técnicos da Cagepa ficam de plantão 24 horas no laboratório das estações de tratamento, controlando a qualidade da água. “Todas as substâncias são aplicadas com base nos padrões da portaria estabelecida pelo Ministério da Saúde”, finalizou.
Áreas impróprias nas praias
Devido às chuvas que caíram nos últimos dias na faixa litorânea do Estado, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) classificou como impróprias para o banho cinco das 56 praias monitoradas pelo órgão: Manaíra, no trecho de 100 metros à esquerda e à direita da galeria frontal ao hotel Costa do Atlântico; Bessa I, no trecho de 100 metros à esquerda e à direita da desembocadura do maceió; o maceió, em Pitimbu, no trecho de 100 metros à esquerda e à direita da desembocadura do riacho do Engenho Velho; Gameleira, em Lucena; e Miramar, no município de Cabedelo.
Como reverter o problema
Para o pesquisador da Unicamp Wilson Jardim, o melhor caminho a seguir é dar continuidade às pesquisas com vistas ao estabelecimento de normas que concorram para preservar o ambiente. Segundo ele, no caso do Brasil, a alternativa de curto prazo para enfrentar esse tipo de problemática é estabelecer novos valores de referência para a potabilidade da água, tendo em vista que já existem tecnologias disponíveis capazes de remover os contaminantes não legislados. “A própria lei brasileira estabelece que as concessionárias de água devem adotar métodos de polimento mais sofisticados contra substâncias potencialmente nocivas, mesmo que elas não estejam legisladas. É claro que um investimento desse tipo pode encarecer o custo de produção da água potável. Entretanto, temos que considerar que determinados compostos acarretam custos sociais ainda maiores, visto que podem trazer sérias sequelas não apenas ao ser humano exposto, como também aos seus descendentes”, observou.
Interrupção em CG
Uma manutenção corretiva provocará a interrupção do abastecimento d’água, hoje, a partir das 9h, nos bairros de José Pinheiro, São José, Santo Antônio, Nova Brasília, Monte Castelo e Centro, em Campina Grande. A previsão é que o abastecimento seja normalizado a partir das 14h.
Segundo informou a gerente da Regional Borborema da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Alexandrina Formiga, a suspensão no abastecimento será necessária para que técnicos da empresa realizem manutenção corretiva em registro de gaveta na Rua Siqueira Campos. Para mais informações sobre os serviços executados pela Cagepa, é só ligar gratuitamente para o número 115.
Metas
O INCTAA vai se dedicar ao tema por mais dois anos e os pesquisadores trabalharão em duas frentes. Primeiro as análises realizadas nas 16 primeiras cidades serão repetidas, para verificar se houve alguma alteração. Em seguida, o trabalho será estendido para as demais capitais.
Da redação, com Jornal Correio da Paraíba/PORTAL CORREIO