Reportagem da edição deste final de semana da revista "Veja" afirma que o
ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa
revelou em depoimentos à Polícia Federal (PF) que três governadores,
seis senadores, um ministro e pelo menos 25 deputados federais foram
beneficiados com pagamentos de propinas oriundas de contratos com
fornecedores da estatal.
Segundo a publicação, o ex-dirigente citou, entre outros políticos,
os nomes da governadoraRoseana Sarney (Maranhão) e dos ex-governadores
Sérgio Cabral (Rio) e Eduardo Campos(Pernambuco); do ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão; dos senadores Renan Calheiros(PMDB-AL), Romero
Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI); e dos deputados Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), Cândido Vacarezza (PT-SP), Mário Negromonte (PP-BA) e
João Pizzolatti (PP-SC).
Citados em depoimentos negam
À revista, o ex-governador Sérgio Cabral informou que sua relação com
Paulo Roberto Costa sempre foi institucional e que nunca recebeu
dinheiro dele. Roseana Sarney, por meio de nota divulgada por sua
assessoria, disse repudiar, "de forma veemente e com grande indignação",
as referências feitas a ela pelo ex-diretor e publicadas pela "Veja". A
governadora afirmou no comunicado que tomará "todas as medidas
jurídicas cabíveis" para sua "honra e dignidade". "Nunca participei de
nenhum esquema de corrupção e muito menos solicitei ao ex-diretor da
Petrobras recursos de qualquer natureza", enfatizou.
Substituta de Eduardo Campos na corrida presidencial, a
ex-senadora Marina Silva (PSB) defendeu o ex-governador. "O fato de ter
um empreendimento da Petrobras feito no seu estado não dá o direito, a
quem quer que seja, de colocá-lo na lista dos que cometeram qualquer
irregularidade", afirmou a presidenciável do PSB.
Segundo "Veja", o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão,
informou, por meio de assessoria, que sua relação com Costa sempre foi
"institucional". Ele negou à revista ter recebido dinheiro do ex-diretor
da Petrobras.
Renan Calheiros não se manifestou para a reportagem sobre a acusação
de Paulo Roberto Costa. Líder do governo no Senado nos governos Lula e
Dilma, o senador Romero Jucá distribuiu nota, por meio da sua
assessoria, para rechaçar a menção a seu nome. Na nota, o senador diz
que conhecia Costa de forma institucional e "repudia as insinuações"
feitas pela reportagem. "O senador nega ter recebido qualquer recurso
por meio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e que conhece o
diretor de maneira institucional. Presidente do PP, o senador Ciro
Nogueira disse à revista que conheceu o ex-diretor da Petrobras em
eventos do partido e negou ter recebido dinheiro dele.
O deputado Henrique Alves, presidente da Câmara, informou, por meio
de nota, que nunca pediu nem recebeu "quaiquer recursos" de Costa. "As
insinuações publicadas pela revista Veja, de forma genérica e sem
apresentar evidências sobre o meu nome, não podem ser tomadas como
denúncia formal nem fundamentada", disse o deputado.
Ex-líder do governo na Câmara, Vaccarezza afirmou em nota que, na
ocasião em que foi procurado pela revista, negou "peremptoriamente"
qualquer tipo de negociação com Paulo Roberto Costa. O deputado petista,
no entanto, alega que a reportagem publicou apenas que ele se encontrou
"por duas vezes" com o ex-dirigente da estatal. "Reafirmo que nunca fiz
qualquer negociação com o Sr. Paulo Roberto Costa; Sempre atendi e vou
continuar atendendo a imprensa de forma honesta e verdadeira", diz
Vacarezza na nota. Pizzolatti e Negromonte não responderam, informou a
revista.
O secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, foi
citado no texto da revista como responsável pela ponte entre o partido e
o esquema de pagamento de propina na Petrobras. Não há detalhes na
reportagem sobre como funcionaria essa intermediação. Vaccari divulgou
nota na qual nega a acusação. "É absolutamente mentirosa a declaração de
que tenha havido qualquer tratativa, seja pessoal, por e-mail ou mesmo
telefônica, com o referido senhor a respeito de doações financeiras ou
qualquer outro assunto", disse na nota.
O suposto esquema
Integrante da diretoria da Petrobras entre 2004 e 2012, Costa foi
preso pela Polícia Federal (PF) durante as investigações da Operação
Lava Jato, que revelou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de
divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. Devido às
acusações, ele está preso no Paraná.
O ex-diretor da estatal do petróleo fez um acordo de delação
premiada. Os depoimentos de Costa à PF têm ocorrido diariamente, na
Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. A PF não revela o
conteúdo dos depoimentos.
A reportagem de "Veja" não detalha o papel que cada um dos políticos
mencionados por Costa teve na suposta fraude. O texto diz que, pelo
acordo firmado com o Ministério Público Federal, o ex-dirigente teria se
comprometido a detalhar o envolvimento de cada um dos políticos no
esquema. A reportagem também afirma que os policiais federais e
procuradores da República estimam que levará mais três semanas para o
ex-diretor da Petrobras esgotar o que tem a dizer.
Outra informação relatada pela revista é de que Paulo Roberto Costa
teria admitido pela primeira vez, durante os depoimentos da delação
premiada, que as empreiteiras contratadas pela Petrobras tinham,
obrigatoriamente, de contribuir para um caixa paralelo que era
distribuído a partidos e políticos da base governista. O ex-diretor
teria dito, informou "Veja", que cada partido tinha seu encarregado de
fazer a intermediação com o esquema de corrupção.
Governo Lula
Segundo a revista, durante os depoimentos dados na superintendência da
Polícia Federal em Curitiba, Paulo Roberto Costa afirmou que o esquema
na Petrobras funcionou ao longo dos dois mandatos do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e também nos dois primeiros anos da gestão Dilma
Rousseff.
Ainda conforme a reportagem, Costa afirmou que, a exemplo do que
ocorria no esquema do mensalão, a distribuição do dinheiro obtido com os
fornecedores da Petrobras servia para garantir que as legendas aliadas
continuassem a apoiar o governo federal no Congresso.
A publicação relata ainda que Costa disse, já em seus primeiros
depoimentos, que conversava frequentemente com o ex-presidente Lula e
que costumava tratar com o petista sobre assuntos da Petrobras. "Veja"
diz que o ex-diretor se comprometeu com o Ministério Público Federal a
detalhar posteriormente o conteúdo das conversas com o ex-presidente.
Procurada pelo G1, a assessoria do Instituto Lula informou que o
ex-presidente da República não comentará a reportagem da revista.
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