O ex-presidente do PT José Genoino, um dos 38
réus do mensalão (Foto: Mauricio Lima / AFP)
Apontado como um dos principais articuladores do mensalão pela Procuradoria Geral da República,
José Genoino, que na época era presidente do PT, tem adotado a estratégia do silêncio até o julgamento do caso no
Supremo Tribunal Federal (STF).
“Sobre esse assunto a única pessoa que fala é o meu advogado, Luis
Fernando Pacheco. É essa a linha que eu tenho sempre adotado, de não me
pronunciar. Não falo nada, zero. Só falo nos autos do processo", afirmou
ao ser questionado sobre o tema pelo
G1.
Hoje assessor especial do Ministério da Defesa, Genoino é um dos 38
réus do processo do mensalão, esquema que, segundo a Procuradoria,
consistiu no desvio de recursos para o pagamento de propina a políticos
em troca de apoio ao governo no Congresso.
Segundo a PGR, Genoino participou das negociações sobre repasses de
dinheiro a partidos aliados e orientou a distribuição dos recursos do
esquema.
O advogado do petista, Luis Fernando Pacheco, afirma que ele só era
responsável pela “articulação política” do PT e que “questões
financeiras” ficavam somente a cargo do então tesoureiro do partido,
Delúbio Soares.
Pacheco relatou ainda ao
G1 que Genoino se tornou uma
“pessoa amargurada e triste” desde que o escândalo estourou, em 2005.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
É essa a linha que eu tenho sempre adotado, de não me pronunciar. Não falo nada, zero. Só falo nos autos do processo"
José Genoino ao G1
G1 - Por que Genoino não fala com a imprensa sobre o processo do mensalão?
Luis Fernando Pacheco - O Genoino não fala com a imprensa
sobre o tema desde 2005. Ele vem mantendo a coerência e se manifesta
somente nos foros adequados, no Congresso, na Polícia Federal e nos
autos. Fora disso ele nunca falou sobre o assunto. Somente nas
instâncias de apuração. Não é uma estratégia traçada agora.
G1- Como o senhor tem se preparado para o julgamento?
Luis Fernando Pacheco - Eu trabalho neste processo desde que
ele se iniciou, acompanhei cada linha do processo, então não tem mais o
que estudar. Eu me considero suficientemente preparado para exercer o
direito de defesa que a mim me foi confiado. Então, estou curtindo
férias de julho, mas claro que há uma expectativa. É um julgamento
importante, mas tenho procurado não me deixar posicionar só por isso.
G1- Qual a expectativa para o julgamento? O senhor está otimista?
Luis Fernando Pacheco - A defesa foi apresentada por escrito
em setembro e nós iremos agora esgotar o direito de defesa com a
sustentação oral. Será uma sustentação simples, que vai ressaltar os
pontos principais da defesa que levam à absolvição de Genoino. Os fatos
que serão demonstrados comprovam que ele não teve envolvimento com a
atividade financeira do partido na época do caso.
Nós acreditamos que o mensalão não existiu. O que houve foi acertos entre as coligações partidárias"
Luis Fernando Pacheco, advogado de Genoino
G1 - Genoino é acusado de negociar, como presidente do PT, o
pagamento a partidos em troca de apoio político. Qual será o argumento
da defesa?
Luis Fernando Pacheco - Ele foi um presidente que tratava das
relações do PT com os movimentos sociais, com as bases do PT nos
parlamentos, com as bases governistas, sempre na defesa intransigente do
governo Lula, jamais com finanças.
G1- Ele tinha conhecimento dos repasses de recursos a partidos aliados?
Luis Fernando Pacheco - Havia um conhecimento geral do
diretório de que o partido passava por dificuldades financeiras e de que
o PT tinha comprometimentos a cumprir com partidos da base, mas a forma
de solucionar o problema foi totalmente delegada ao Delúbio Soares, até
pelo cargo que ele exercia, de tesoureiro do partido. O Delúbio buscou a
melhor a maneira de solucionar o problema e o advogado dele terá como
demonstrar que ele agiu de maneira legítima.
G1- Na sua opinião, o mensalão existiu?
Luis Fernando Pacheco - Nós acreditamos que o mensalão não existiu. O que houve foi acertos entre as coligações partidárias.
G1- O que mudou na vida de Genoino desde o escândalo do mensalão?
Luis Fernando Pacheco - O Genoino, que é uma pessoa muito boa,
na minha avaliação pessoal, se tornou uma pessoa mais amargurada. É um
homem que não tem uma história de vida pobre, um homem que optou pela
luta armada, viveu no Araguaia como camponês, foi preso, torturado. Ele
venceu na vida pública, na defesa de seus ideais, e na defesa constante
do que ele achava que era melhor para o país. De repente, ele foi
tolhido por uma acusação leviana do Roberto Jefferson, que não é uma
pessoa de fala coerente, que muda versões conforme o sabor do momento.
Ele se tornou uma pessoa mais amargurada e triste por isso.
G1- Qual o legado do julgamento do mensalão?
Luis Fernando Pacheco - É um julgamento de grande importância
histórica, acho que será um dos marcos da história do Judiciário.
Acredito que a realização desse julgamento será o grande momento para a
gente, para o Estado brasileiro fazer o reconhecimento à pessoa proba,
honesta e comprometida com o país que é o José Genoino.
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