Um sinal de alerta foi accionado nos escritórios dos produtores da série
«Actividade Paranormal»: o quarto capítulo, lançado em 2012, rendeu
abaixo dos 150 milhões de dólares, a primeira vez com baixos rendimentos
desde que a saga assustadora do casal Katie Featherston e Micah Sloat
estreou nos cinemas, há cinco anos.
Na tentativa de reanimar o interesse do público pela
franquia que já rendeu mais de 700 milhões de dólares, os produtores
foram radicais. Adiaram o oficial «Actividade Paranormal 5», que volta
em 2015, e decidiram lançar um derivado latino da série. «Actividade
Paranormal: Marcados pelo Mal», que sai do subúrbio branco e rico dos
filmes anteriores para concentrar-se na cidade de Oxnard, no sul da
Califórnia, lar de uma imensa comunidade de descendentes de mexicanos.
A estratégia é clara: investir no público latino-americano, que
representa cerca de 36% das receitas de cinema vendidos nos EUA, e
apostar ainda mais no mercado internacional. «
«Não houve uma pressão
do estúdio para criar um filme que apelasse apenas para os latinos»,
disse Christopher Landon, que assinou o argumento de todos os filmes da
franquia desde a primeira sequela, e agora assume também a realização.
«A ideia de fazer o filme nesta comunidade surgiu quando, após uma
sessão de Actividade Paranormal 3, uma jovem latina aproximou-se da
produção a chorar para falar da sua paixão pela série. Ela sabia mais do
que eu sobre a mitologia», rebate Landon. «Há uma espiritualidade
grande em toda a América Latina. Talvez seja essa a razão dos filmes de
horror repercutirem tanto nestes países, mas ninguém me pediu para mudar
o argumento.»
Apesar disso, o cineasta confirma que a primeira
sessão-teste, em Los Angeles, foi composta de uma plateia
predominantemente latina. A segunda foi para Atlanta, visando o público
afro-americano e só na terceira sessão, em Orange County, região
conservadora da Califórnia, que os «caucasianos» foram testados. «E
tivemos as melhores reacções de todas», garante Landon. «A ideia era
criar personagens interessantes para todo mundo, porque esse é o segredo
de um filme de terror. 'Invocação do Mal' é um filme incrível porque
tem bons personagens.»
A nova dupla de protagonistas realmente é o grande trunfo de
«Marcados pelo Mal». O argumento - do próprio Landon - concentra-se em
dois amigos, Jesse (Andrew Jacobs) e Hector (Jorge Diaz), que comemoram o
fim do secundário e os 18 anos do primeiro com a família mexicana. Em
mais da metade da longa-metragem, o novo «Actividade Paranormal» está
mais para «Superbad» do que para «O Exorcista», com a dupla a pregar
peças, a fazer piadas de conotação sexual e a meterem-se em situações
embaraçosas puramente engraçadas.
«Fiquei surpreso quando vi o filme pela primeira vez e era muito
divertido. Não sabia que ia ficar assim durante as filmagens», revela
Diaz, o mais falante dos actores. «Eles provavelmente esqueceram das
filmagens, porque rodaram muitas cenas. Mas eu sempre quis misturar
humor e horror, sem atrapalhar nenhum dos dois», conta o cineasta.
Antes de virar um terror no estilo mais tradicional, o filme ainda
percorre os caminhos de «Poder Máximo», um dos sucessos de 2012, também
em «found footage». Jesse descobre que ganhou uma marca de dentes no seu
braço após meter-se com uma «bruja», assassinada estranhamente por um
colega da escola. É o sinal de uma possessão, mas, em vez de um espírito
comum, ganha uma espécie de guardião, que comunica pelo jogo
electrónico Genius, popular nos anos 80, e que o protege de membros de
gangues.
«Cresci a ouvir essas histórias sobre bruxaria. A minha mãe falava
que a nossa casa estava assombrada e eu achava que ela era louca. Quando
cresci e ouvi certas histórias, tudo encaixou», diz Jorge Diaz. Já
Landon diz-se «pouco espiritual», mas conta que viveu a sua própria
actividade paranormal. «O meu apartamento era assombrado por um
fantasma», confessa o realizador. «Mas era um fantasma bonzinho. Era o
antigo apartamento de Charles Chaplin e, certa vez, um amigo dormiu no
sofá e, quando acordou, agradeceu-me por tê-lo coberto. Mas eu nunca fiz
isso.»
Não é um dos «casos» mais amedrontadores da história e talvez
isso se reflicta na meia hora final de «Marcados pelo Mal», quando o
cineasta lembra que está a filmar uma longa-metragem de terror.
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