O Facebook intercepta sistematicamente as mensagens privadas enviadas
pelos utilizadores daquela rede social, para recolher informação e
vendê-la para fins comerciais. Matthew Campbell e Michael Hurley
partiram desta alegação, que dizem ser baseada numa “investigação
independente”, para processar a empresa liderada por Mark Zuckerberg.
Os dois cidadãos
norte-americanos – um do Arkansas e outro de Oregon – interpuseram a
acção judicial no tribunal distrital do Norte da Califórnia, em San
Jose. O processo foi aberto no início desta semana, em nome de todos os
utilizadores norte-americanos do Facebook que enviaram ou receberam links nos últimos dois anos através de uma mensagem privada nesta rede.
O caso não é apenas sobre privacidade, mas também sobre concorrência empresarial. É por isso que está em causa a partilha de
links
e não a simples leitura das mensagens privadas (algo que acontece há
sensivelmente uma década com o Google, que recorre a um automatismo que
“lê” os e-mails privados dos utilizadores do seu serviço de correio
electrónico para lhes apresentar, junto a esses e-mails – que são
mensagens privadas – publicidade direccionada).
Os promotores do
processo argumentam que as hiperligações partilhadas por mensagem
privada são contabilizadas no número de “gostos” das páginas a que esses
links dizem respeito. Como esse número é indicativo do impacto
que determinada página (que pode ser de uma empresa ou de uma marca)
tem no mercado e da sua audiência potencial, o rigor na contabilização
tem valor para proprietários e anunciantes. Além de que a monitorização
de um espaço tido como privado contribui definitivamente para traçar o
perfil dos cibernautas.
Campbell e Hurley entendem que, por ter
acesso a informação tão valiosa, o Facebook se tenha sentido impelido a
agir de forma perniciosa. “O facto de os utilizadores consideraram o
conteúdo das mensagens do Facebook como ‘privado’ cria uma oportunidade
particularmente lucrativa para o Facebook, porque os utilizadores que
crêem que estão a comunicar num serviço livre de vigilância tendem a
revelar factos sobre si próprios que não revelariam caso soubessem que
estão a ser monitorizados”, lê-se no processo,
citado pelo Financial Times.
“Assim,
o Facebook tem-se posicionado para adquirir partes dos perfis dos
utilizadores que estão provavelmente indisponíveis para outros
agregadores de dados”, continua o processo, agora
de acordo com a BBC.
Ou seja, os queixosos querem ver recriminada a violação da privacidade,
a profanação da relação de confiança entre a rede social e os seus
utilizadores, e por fim a vantagem competitiva do Facebook em relação a
outras empresas que agregam o mesmo tipo de informação com o mesmo fim –
comercializá-la com anunciantes.
Acusações “infundadas”O
Facebook reagiu através de uma porta-voz, Jackie Rooney, que rejeitou
os pressupostos do processo. A posição oficial da empresa de Silicon
Valley é a de que as acusações são “infundadas”. “Vamos defender-nos
vigorosamente”, disse Rooney,
segundo o Los Angeles Times.
O mesmo diário relembra, no entanto, que um juiz federal decidiu em
Setembro, também em San Jose, que o Google deve ir a julgamento para
responder a acusações idênticas. A proprietária do mais popular motor de
busca do planeta é acusada de abrir e ler ilegalmente o conteúdo dos
e-mails que passam pelo Gmail.
As
questões de privacidade envolvendo o Facebook causam frequentemente
polémica. Mas desta vez a empresa tem de responder a um pedido de
indemnização que pode ser de 100 dólares (73,5 euros ao câmbio actual)
por cada dia de violação ou de 10 mil dólares (7350 euros) por cada
utilizador afectado por esta alegada prática. Como o Facebook tem mais
de 166 milhões de utilizadores nos EUA, o número de potenciais vítimas é
muito grande.
A terceira via, neste caso, é representada por
Graham Cluney, que se afasta da discussão sobre se o Facebook está ou
não a monitorizar as mensagens privadas para defender que, se não o faz,
deveria fazer. O especialista britânico em segurança
online escreveu no seu blogue, num
post citado pela BBC, que se os
links não forem “devidamente verificados” existe “um risco muito real de que possam circular abundantemente
spam, burlas, ataques de
phishing e URL maliciosos desenhados para infectar os computadores dos destinatários com
malware”.
publico.pt