Médicos em treinamento contra o ebola; medicamento ZMapp é o principal coquetel disponível para tratá-lo
Os únicos resultados de testes
clínicos feitos até agora com a droga experimental ZMapp, cuja
finalidade é combater a infecção pelo vírus ebola, mostram que ela teve
100% de eficácia em macacos, mesmo em casos avançados de infecção.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, cujos
detalhes foram divulgados na revista +++Nature, disseram que se trata
de "um importante passo adiante". Eles agora querem iniciar testes
clínicos em pessoas para entender melhor os efeitos da droga.
O ZMapp ainda está em estágio inicial de desenvolvimento. Até agora, não havia dados sobre sua eficácia.
Médicos vêm recorrendo a ele - mesmo sem que ele
tenha recebido aprovação para uso em pessoas - pelo fato de o ebola não
ter cura. A doença matou mais de 1,5 mil pessoas na atual epidemia,
iniciada na Guiné, no oeste da África.
No entanto, mesmo que a eficácia do remédio em
humanos seja comprovada, os limitados suprimentos da droga não serão
capazes de ajudar as 20 mil pessoas que, segundo estimativas, ainda
devem ser infectadas na atual epidemia no oeste da África.
Além disso, sabe-se que duas em cada sete pessoas que já receberam o medicamento acabaram morrendo em decorrência do vírus.
Anticorpos
Pesquisadores têm investigado diferentes combinações de anticorpos como terapia contra a doença.
Combinações prévias obtiveram algum sucesso em
estudos com animais. E o ZMapp é o coquetel mais recente, contendo três
anticorpos.
Os testes desse coquetel, feitos em 18 macacos
infectados com o ebola, mostraram que 100% deles sobreviveram -
inclusive animais que receberam a droga até cinco dias após a infecção,
ou seja, já em estado avançado da doença e três dias antes de ela se
tornar fatal nos animais.
Os cientistas dizem que trata-se de um feito
significativo, já que medicamentos prévios só serviam se fossem
ingeridos antes mesmo que os sintomas surgissem.
Um dos pesquisadores, Gary Kobinger, da Agência
de Saúde Pública do Canadá, disse que esse é um grande avanço em relação
a combinações prévias de anticorpos.
"O nível de avanço superou minhas próprias
expectativas e me surpreendi com o fato de (o coquetel) resgatar animais
até o quinto dia (de infecção); é uma notícia fantástica", diz ele.
No entanto, cientistas costumam ser cautelosos quanto a interpretar implicações para humanos de testes animais.
Um médico liberiano e um padre espanhol morreram
de ebola, mesmo sendo tratados com o ZMapp. Em contrapartida, dois
médicos americanos que se conseguiram se recuperar também receberam o
ZMapp.
O curso da infecção é mais lento em humanos do
que nos macacos. Por isso, estima-se que o ZMapp só seja eficaz em
humanos se ingerido até o nono ou 11º dia da infecção.
Mas, segundo Kobinger, "sabemos que há um ponto
sem volta, em que os órgãos principais do corpo sofrem muitos danos,
então há um limite (ao medicamento)".
Testes em humanos
O virólogo britânico Jonathan Ball, da
Universidade de Nottingham, comentou o resultado da pesquisa dizendo
que, antes dela, "o ZMapp era um mistério total".
"Trata-se de uma melhora incrível quanto aos
coquetéis prévios - 100% de sucesso e, sobretudo, após os primeiros
sintomas da infecção", agrega ele.
O professor Peter Piot, diretor da Escola de
Higiene e Medicina Tropical de Londres, afirmou nunca ter imaginado, "40
anos após eu ter me deparado com minha primeira epidemia de ebola, que a
doença continuaria a provocar mortes em uma escala tão devastadora".
"Esse bom teste em não-humanos oferece a
evidência mais convincente até agora de que o ZMapp pode ser um
tratamento efetivo às infecções de ebola em humanos", afirma. "É crucial
que testes em humanos comecem o mais rápido possível."
.bbc.co.uk