Ferri começou a traçar os primeiras linhas do projeto de voltar a invadir o campo de um estádio de Copa do Mundo ainda no início deste ano. Em março, o torcedor italiano anunciou em dois perfis de uma rede social que pensava em visitar o Brasil para assistir ao Mundial. O desejo vinha acompanhado de um aviso:
- Estou considerando seriamente o fato de ir para a Copa do Mundo no Brasil ... Senhores, talvez o Falcão volte a voar – escreveu o invasor em março deste ano.
Com a passagem para o Brasil comprada, o italiano começou a pensar como poderia invadir o gramado de um estádio brasileiro. De acordo com um agente judicial que teve contato com Ferri e preferiu não se identificar, o italiano recentemente assistiu a uma partida no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Contudo, se assustou com a quantidade de seguranças presentes no local e decidiu adiar os planos. Teria uma nova chance de invadir o campo na Arena Fonte Nova, em Salvador, com tudo engatilhado para colocar o plano em ação.
Mario Ferri diz que pensa em ir para o mundial do Brasil (Foto: Reprodução / Facebook)
Primeiro,
comprou ingresso para deficientes físicos. Sabia que os lugares
destinados aos cadeirantes ficavam mais perto do campo. Depois, foi só
esperar a oportunidade. E ela veio ainda no início do jogo entre Bélgica
e Estados Unidos. Com o joelho direito enfaixado, Ferri se levantou da
cadeira de rodas, atravessou a proteção que separa as arquibancadas do
gramado e, aos 16 minutos do primeiro tempo do jogo, correu pelo campo
da Fonte Nova sem ser incomodado pelos seguranças.Durante a corrida, Ferri cumprimentou o camisa 10 da Bélgica, Hazard, driblou o belga De Bruyne, que pedia para que ele saísse de campo, mostrou a camisa com a inscrição ‘Salve as crianças da favela. Ciro vive’ e permaneceu no campo até que foi retirado por um segurança e levado para o posto policial montado no estádio. No fim, o plano não poderia ter outro desfecho. O torcedor italiano foi detido e encaminhado para o Complexo Policial dos Barris, na capital baiana, onde, segundo policiais, ficará à espera de uma determinação judicial. De acordo com funcionários do judiciário baiano, o italiano pode até responder por estelionato por fingir ser deficiente físico.
histórico de invasões
Ferri é bastante conhecido na Itália, onde iniciou a trajetória como um ‘especialista’ na invasão aos gramados dos estádios de futebol. Em novembro de 2009, ele interrompeu um amistoso entre Itália e Holanda com uma faixa pedindo que o técnico Marcelo Lippi convocasse o atacante Antonio Cassano para a seleção nacional que disputaria a Copa do Mundo. Ferri voltou a repetir o pedido ao invadir o campo no duelo entre Sampdoria e Napoli, em maio de 2010, confronto válido pelo Campeonato Italiano.
Mario Ferri invadiu o gramado da partida entre Bélgica e Estados Unidos (Foto: Rafael Santana)
Lippi não convocou Cassano, a Itália foi eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 2010 e Ferri se sentiu na obrigação de mostrar ao técnico italiano que tinha razão. Na semifinal do mundial da África do Sul, ele invadiu o gramado na partida entre Espanha e Alemanha com uma faixa dizendo “Lippi, eu te avisei”. A estratégia utilizada foi a mesma da que o italiano colocou em prática na Arena Fonte Nova. Entrou de cadeira de rodas, aproveitou a proximidade do campo e invadiu o gramado com direito a uma vuvuzela em uma das mãos.
O histórico de Ferri não acaba por aí. O italiano invadiu o campo em mais três partidas, todas em competições internacionais. Ainda em 2010, voltou a entrar no gramado durante um jogo entre Milan e Real Madrid, pela Liga dos Campeões. No fim do mesmo ano, conseguiu invadir o palco da partida entre Internacional e Mazembe, no Mundial Interclubes.
Torcedor italiano foi retirado do gramado e encaminhado para o posto policial (Foto: Reprodução / Facebook)
Em
2011, o maior ‘feito’ do italiano envolvendo clubes: conseguiu ter
acesso ao campo do jogo entre Barcelona e Manchester United, na final da
Liga dos Campeões. Pela ‘carreira’, Ferri enfrenta vários processos na
Itália e está proibido de entrar em estádios no país onde nasceu e
também na África do Sul. Também foi em 2011 que o torcedor italiano
anunciou a 'aposentadoria'. No entanto, horas antes do jogo entre
Bélgica e EUA, nesta terça-feira, Ferri questionou seguidores, nas redes
sociais, se voltaria à ativa.
mensagem na camisa
Ferri entrou em campo na Arena Fonte Nova com uma camisa com o símbolo do Super-Homem e duas inscrições. A primeira era ‘Salve as crianças da favela', em referência às crianças pobres que vivem nas favelas brasileiras. A segunda inscrição era 'Ciro vive', em memória de Ciro Esposito, torcedor do Napoli que morreu no último mês de junho após cinquenta dias internado. Esposito tentava assistir a uma partida entre Napoli e Roma quando se envolveu em uma confusão nos arredores do estádio. Dez pessoas ficaram feridas no incidente.
As imagens da invasão de Ferri ao gramado da Fonte Nova foram mostradas durante o "Seleção SporTV" desta terça-feira, que contou com a presença do secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke, que criticou a atitude do torcedor.
Mario Ferri pode responder por estelionato por fingir ser deficiente (Foto: Reprodução SporTV)
- O que é triste é que temos trabalhado para ter certeza de que damos acesso ao estádio a pessoas com deficiência, necessidades especiais e cadeirantes. Essa pessoa está agindo contra todos os cadeirantes. Ele deveria ser sancionado, pois é o pior exemplo. Está indo contra tudo aquilo que fazemos para reconhecer que quem queira ir à Copa do Mundo deva ter acesso. Ele é uma vergonha para todas as outras pessoas que estão sentadas ali na cadeira de rodas - considerou Valcke.
O apresentador Marcelo Barreto engrossou as críticas e reforçou a necessidade de punição ao torcedor.
- Esse ser humano está em uma das piores categorias possíveis entre os seres humanos. Uma pessoa que se disfarça de deficiente físico para fazer qualquer coisa já merece qualquer tipo de sanção, para invadir o campo então, pior ainda.
A Bélgica venceu a partida por 2 a 1 e avançou para as quartas de final. O próximo adversário é a Argentina, no próximo sábado, às 13h, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
globo.com
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