Os mergulhadores
Alberto Nava e Susan Bird transportam o crânio encontrado na caverna
de Hoyo Negro, no México, até uma plataforma giratória para que ele
fosse fotografado - Paul Nicklen/National Geographic
Definir a origem dos primeiros povos da América tem sido um desafio para arqueólogos e antropólogos. A descoberta de um esqueleto em uma caverna submersa do México pode ser o elo que faltava entre os primeiros habitantes da América e os povos indígenas que se desenvolveram no continente. O estudo, realizado por pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá, México e Dinamarca, foi publicado nesta quinta-feira, na revista científica Science.
Uma das teses mais aceitas para a origem dos americanos é a de que os primeiros habitantes seriam descendentes de siberianos que chegaram ao continente por Beríngia, uma porção de Terra firme que ligou o Alasca e a Sibéria em diversos momentos do Pleistoceno, período que corresponde ao intervalo entre 1,8 milhão e 11.500 anos atrás.
Essa ideia, porém, esbarra no seguinte problema: as características faciais dos esqueletos mais antigos encontrados na América não se parecem muito com os povos indígenas da atualidade. Os crânios encontrados em escavações são mais longos e estreitos do que os dos indígenas, e seus rostos, menores. Isso levou à especulação de que os primeiros americanos pré-históricos e os indígenas tinham origens distintas – ou chegaram da Ásia em diferentes estágios de sua evolução.
Esqueletos de paleoamericanos (como são chamados os primeiros povos que chegaram ao continente americano) não são encontrados com facilidade, o que dificulta a solução do mistério. "Os paleoamericanos eram povos nômades, que costumavam enterrar ou cremar seus mortos no lugar em que estivessem, tornando a localização de suas tumbas imprevisível", afirma James Chatters, dono da empresa de consultoria Paleociência Aplicada e principal autor do estudo.
Descoberta — Por essa razão, a descoberta de um esqueleto quase completo em uma caverna subaquática no México representa um marco no estudo sobre a origem do homem americano. O esqueleto pertence a uma menina que tinha entre 15 e 16 anos e, com base em estudos de datação por radiocarbono feitos em seu esmalte dentário e análises dos depósitos minerais em seus ossos, os pesquisadores concluíram que seu esqueleto tem, pelo menos, 12.000 anos.
A descoberta foi realizada em um conjunto de cavernas mexicanas denominado Sac Actun, na costa da Península de Iucatã, acessível somente a mergulhadores. O esqueleto recebeu o apelido de Naia, que significa "ninfa das águas". Ao lado de Naia, foram encontrados ossos de grandes mamíferos. Os pesquisadores acreditam que pessoas e animais caíram nessa caverna, que se tornou submersa há cerca de 10.000 anos, com o derretimento das geleiras.
Elo — Os pesquisadores analisaram o DNA mitocondrial de Naia — parte do material genético que é herdado apenas da mãe e utilizado para estudar ligações entre povos — e descobriram que seu perfil genético é semelhante ao dos indígenas atuais. Ao mesmo tempo, as características cranianas de Naia são dos primeiros habitantes da América. Dessa forma, Naia seria o elo entre os homens que chegaram ao continente e os que hoje vivem nele.
As diferenças craniofaciais, explicam os cientistas, se devem provavelmente a mudanças evolutivas que ocorreram depois que os habitantes de Beríngia vieram para a América.
Assim, o estudo sugere que a América não foi povoada por diferentes ondas migratórias vindas de partes da Eurásia (continente que era a junção da Europa e a Ásia), mas sim que a população se expandiu a partir dos homens que vieram da Ásia para o continente americano por meio de Beríngia. A equipe pretende agora tentar sequenciar o DNA nuclear de Naia, em busca de mais resposta sobre a origem dos povos americanos.
veja.abril.com
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