Brasília - A retomada do debate
sobre a regulamentação econômica da mídia é uma das promessas feitas por
Ricardo Berzoini, ao assumir o Ministério das Comunicações. Discutido
pela sociedade civil há muitos anos – sobretudo a partir da 1ª
Conferência Nacional de Comunicação, em 2009 – o assunto divide a
opinião de deputados.
“É um absurdo essa proposta. Certamente foi
encomendada para censurar a imprensa e as práticas democráticas. O PSDB,
tanto na Câmara quanto no Senado, vai confrontar essa matéria, que não
corresponde aos sentimentos nacionais”, afirmou o líder do PSDB,
deputado Antonio Imbassahy (BA).
Já a deputada Luiza Erundina
(PSB-SP) afirma ser uma “falácia” o argumento de que a regulamentação
dos meios de comunicação ameaçaria o direito de livre expressão. “Os
defensores da democratização da mídia são, justamente, aqueles que estão
à margem do ‘direito de antena’ – o direito de emitir e de receber
imagens e sons por meio da radiodifusão”, diz. “Os setores dominantes da
sociedade não têm nenhum interesse em mudar a dinâmica de poder da
mídia”.
Segundo o governo, a ideia é incentivar a regulamentação
econômica da mídia eletrônica e impressa, sem tocar no conteúdo.
Atualmente, a principal referência legal para a mídia é o Código
Brasileiro de Telecomunicações, de 1962, atualizado pela Lei Geral de
Telecomunicações, em 1997.
No entanto, a maioria das normas
constitucionais sobre comunicações até hoje não foi regulamentada pelo
Congresso. Um exemplo são os princípios para a produção e a programação
do serviço de radiodifusão, que deveriam servir de critério para outorga
e renovação de concessões.
Outra lacuna é o direito de resposta,
que ficou sem regra específica, desde que o STF julgou a Lei de Imprensa
inconstitucional, em 2009. O Projeto de Lei 6446/13, que tramita
apensado a outras propostas sobre direito de resposta e imprensa, foi
incluído várias vezes na pauta do Plenário, no ano passado, mas não
houve consenso para votá-lo.
Os princípios constitucionais que
preveem a regionalização da programação e o estímulo ao conteúdo
independente na televisão também não foram regulamentados por lei. Sobre
isso, tramita no Congresso o PL 256/91, da deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ), que garante a produção regional independente na TV aberta.
Apresentado há 24 anos, o texto foi aprovado pela Câmara, mas
encontra-se parado no Senado.
Interesses
A
secretária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC),
Renata Mielli, atribui o atraso no debate sobre a regulamentação ao
interesse contrário de alguns parlamentares. “Um obstáculo grave para
essa discussão é o fato de termos tantos parlamentares como
concessionários de rádio e televisão no Congresso, em razão do processo
da década de 1980 e início da década de 1990 para conceder outorgas como
moedas de troca em votação de projetos. A gente tem o que se chama de
coronelismo eletrônico”, afirma.
O Artigo 54 da Constituição
proíbe os parlamentares de manter contrato ou exercer cargos, função ou
emprego remunerado em empresas concessionárias de serviço público.
Para
Antônio Imbassahy, no entanto, esse tipo de crítica tem o objetivo de
constranger os parlamentares. “Se essas concessões irregulares
acontecem, é preciso que sejam corrigidas”, afirma. “Uma coisa é
censurar a imprensa brasileira, outra coisa é corrigir eventuais
irregularidades.”
Fiscalização
A deputada
Luiza Erundina acredita ser preciso fiscalizar as concessões de
radiodifusão (válidas por 10 anos para a rádio e 15 para a TV) para
democratizar o controle dos meios de comunicação. “Quem detinha uma
concessão, há 30 ou 40 anos, hoje tem um poder muito maior, calibrado
pela tecnologia digital”.
Ela afirma que nem os governos mais
progressistas tiveram a coragem de desafiar o poder dos “caciques
políticos” e dos grandes conglomerados de imprensas, por meio de regras
mais transparentes que coíbam a propriedade cruzada – quando o mesmo
grupo de comunicação controla diversos tipos de veículos (TV, rádios e
jornais).
Na opinião de Renata Mielli, o monopólio de meios de
comunicação inviabiliza a regionalização do conteúdo, previsto na
Constituição. De acordo com o FNDC, seis famílias controlam 70% da
informação produzida no Brasil. “As afiliadas das emissoras que detêm
outorga nacional, como a Rede Globo, são obrigadas a reproduzir o
conteúdo nacional da cabeça de rede, que responde por 80 ou 90% da
grade”, ressaltou.
O FNDC é uma das entidades que recolhem
assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular, com o objetivo
de regular a mídia brasileira. Chamado de Projeto de Lei de Mídia
Democrática, o texto precisa de 1 milhão e 300 mil assinaturas para que
possa ser analisado pelos parlamentares.
d24am.com
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