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quinta-feira, 17 de abril de 2014

"O Filho de Deus" funciona como pregação, mas não como filme



O filme reforça a imagem de Jesus como o primeiro hippie

Há um motivo simples pelo qual "O Filho de Deus" não funciona como filme, ainda que seja um retrato relativamente fiel da vida de Jesus Cristo. Não há um grande conflito a ser resolvido, para nenhum personagem. E isso vale especialmente para o Central, que, por conhecer seu destino, nada teme ou questiona. Se funciona como versão da Bíblia para quem não tem paciência de ler ou quer revisitar os evangelhos, não apenas é outra conversa como também não é a função desse texto resolver.

"O Filho de Deus" é daquelas biografias ambiciosas que buscam contar tudo sobre a vida de seu retratado. Por isso, depois de uma breve introdução - bem ágil e bonita, que só não é melhor porque acabamos de ver "Noé" -, que começa em Adão e Eva, chegamos no nascimento de Jesus. Ele logo parte em sua peregrinação peripatética, arrebanhando seus discípulos, que, vejam vocês, inclui Maria Madalena - sem julgamentos. A narrativa desemboca, claro, na crucificação, ressurreição e ascensão (suponho que não seja spoiler).

J
José conduz Maria e um Jesus recém-nascido


O filme é uma reedição da série "The Bible", dedicada a contar a história do povo judeu, ainda que boa parte dela já se dedicasse a falar sobre Jesus e seus discípulos. O foco aqui é tanto na desconfiança dos religiosos oficiais - que se recentiam, primeiro, Dele andar com pecadores e, segundo, de se proclamar Filho de Deus, o que é uma blasfêmia -, quanto na construção do personagem de Pôncio Pilatos, retratado como um tirano cruel, na primeira metade do filme, e, depois, como um líder preocupado com suas ações na segunda.

Esse é o tipo de problema de roteiro e construção de personagens que enfraquece o filme. Afinal, Pilatos é tirânico na hora em que é preciso retratar o sofrimento do povo de Deus. Mas, na crucificação, em que é descrito na Bíblia como um líder consciente, sua crueldade é deixada de lado. É tão caricato que faz lembrar "A Vida de Brian", naquele momento em que os judeus que conspiram um golpe contra Roma se dão conta de que a vida deles melhorou depois da invasão.


Mel Gibson achou essa cena pouco verossímil



Ainda assim, o `problema` maior é Jesus - enquanto personagem, que fique claro. Como ele se mantém em curso direto, sem desvios, o filme acaba mais próximo de um álbum de fotos, que tem a função de relembrar algo que já passou, do que de qualquer outra coisa. Com isso se perde a oportunidade de, primeiro, reapresentar Jesus sob um novo olhar, levantando questões que o pensamento contemporâneo poderia acrescentar à Sua figura, ou de, segundo, buscar uma compreensão sobre o que Ele passou.

Para não ser injusto, isso até aparece, quando ele encara sua morte iminente. E chega a ser interessante, apesar da limitação técnica de Diogo Morgado - que não é muito melhor do que o resto do elenco -, vê-lo se voltar para seu Pai, perguntando se todo o seu sofrimento é realmente necessário. Mas isso só dura coisa de 15 minutos já no terço final de um filme que durou duas longas horas. Já não dava para salvar muito coisa.

rondoniadinamica.com

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