A construtora Delta vem impedindo a Polícia Federal de acessar suas
contas, apesar da autorização emitida pela Justiça para que a PF analise
os dados na sede da empresa. A Delta, que é alvo de uma investigação
sobre lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos, alega que tem
direito de não produzir provas contra si mesma. As informações são do
jornal Folha de S. Paulo.
A PF quer ter acesso aos dados em um
formato compatível, além de autorização para inspecionar a sala onde
estão os documentos da contabilidade e os arquivos de gestão de obras e
de projetos. Os investigadores também querem falar com funcionários e
com o contador da Delta, para que ele explique como organiza os
registros. Além disso, os agentes pedem o resultado da auditoria interna
que foi realizada na empresa.
A Justiça havia determinado que a
Delta entregasse "as informações requeridas diretamente à perícia
policial" em um prazo de cinco dias. Porém, a empresa recorreu e
conseguiu uma liminar que suspendeu a decisão.
A Delta passou a
ser investigada a partir de revelações feitas durante a Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, em 2012, que apurou a
influência do empresário Carlos Cachoeira em vários Estados. A empresa
afirmou que "está impedida de se pronunciar na mídia" porque a
investigação "corre em segredo de Justiça".
Carlinhos Cachoeira
Acusado
de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos,
o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um
vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil,
José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto
esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas
telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos
contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder
do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo
telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com
o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais
de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra
Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o
senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com
o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a
atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na
abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira.
O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito
Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento
com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de
Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando
Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e
maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes
passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no
Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou,
por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato
do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na
história do Senado.
Em 21 de novembro, após 265 dias preso,
Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No
mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do
Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de
influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos,
a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a
pena em regime semiaberto.
No dia seguinte, o Ministério Público
Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma
segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de
participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O
pedido foi negado pela Justiça.
No dia 7 de dezembro, Cachoeira
voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de
Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por
diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua
prisão preventiva. A defesa recorreu e, quatro dias depois, o juiz
federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1)
concedeu novo habeas-corpus e Cachoeira foi libertado.
jb.com
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