O terceiro dia de julgamento do chamado “massacre do Carandiru” começou com quase duas horas de atraso, por volta das 11h50 desta quarta-feira (31), no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital, e terminou às 2h30 de quinta-feira (1º) - quase 15 horas de sessão, ao todo. Nesta etapa do júri ocorreram os interrogatórios de quatro dos 25 réus.
A exemplo do que ocorreu no primeiro bloco do julgamento, em abril deste ano, apenas parte dos acusados se manifestou, por escolha da advogada de defesa, Ieda Ribeiro. Desta forma, faltou apenas o interrogatório do tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que em 1992 era tenente da Rota, previsto para esta quinta (1º). O réu, devido ao adiamento, teve de dormir no fórum, segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça (TJ).
O primeiro a ser ouvido foi o coronel inativo Valter Alves Mendonça, à época capitão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Em seu depoimento, ele admitiu que a Polícia Militar (PM) não tinha um treinamento específico para entrar no presídio, mas defendeu a tese de ter efetuado disparos apenas como reação à ação dos presos.
"Naquela ocasião não tínhamos equipamento de proteção pessoal nem arma não letal. Só tínhamos o revólver e a submetralhadora. Peguei então um escudo balístico e subimos cuidadosamente [o primeiro lance de escadas]. No outro lance de escadas, mais obstáculos. Ingressei no segundo andar. Ao dar os primeiros passos, na minha frente vi clarões, ouvi estampidos e senti um impacto no escudo. Nesse momento eu efetuei disparos", afirmou, no depoimento que durou mais de três horas.
Em uma das quatro situações que descreveu como confronto com os presos, o coronel disse ter sido agredido com estiletes e pauladas, mas destacou ter passado apenas 15 minutos dentro da Casa de Detenção.
De acordo com a Promotoria, houve contradições entre o depoimento apresentado nesta quarta pelo coronel e falas anteriores, principalmente na CPI sobre o caso, à época do massacre. “O senhor chegou a dizer que havia informações de reféns. Lembra-se disso?”, questionou o assistente de acusação, o promotor Eduardo Olavo Canto Neto. “Não me lembro. Talvez os presos fossem os próprios reféns”, respondeu o coronel.
Questionado se conhecia o então tenente-coronel Luiz Nakaharada, comandante da invasão do 3º Batalhão da Tropa de Choque na Casa de Detenção, o coronel respondeu: "o coronel Nakaharada é um dos meus ídolos". Reconhecido por sobreviventes, Nakaharada será julgado depois e em separado dos demais por ser acusado de matar sozinho cinco dos detentos.
Editoria de Arte / G1 globo.com
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