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A onda de protestos que se espalhou pelo país nas últimas semanas já repercute nos jornais internacionais, inclusive nos que tratam de economia e investimentos. O jornal britânico Financial Times dedicou seu editorial desta quarta-feira aos protestos que ocorrem em cidades brasileiras, que tiveram como estopim o aumento do preço das tarifas de transporte público.
Segundo o diário, o movimento que se alastra no Brasil, sem líderes e propostas bem definidas (que vão de combate à corrupção ao gasto do dinheiro público e a inflação), mostra um cenário preocupante: "ele sugere que o modelo brasileiro pode ter chegado ao seu limite".
O FT reconhece a década de crescimento econômico ocorrida no país graças, sobretudo, ao boom dos preços das commodities e o estímulo ao consumo. O jornal cita, ainda, a saída de cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza e o aumento da classe média, como consequência. Contudo, como as mudanças sociais não corresponderam aos anseios da própria classe média, como melhora em saúde pública e educação, a população, segundo o FT, se encontra diante de um impasse: por um lado, a conjuntura ruim que diziam ter ficado para trás, e por outro, o glorioso presente no qual o governo diz que os brasileiros vivem.
"Eles (os brasileiros) pagam impostos de países desenvolvidos para serviços públicos deficientes. Ônibus superlotados e um alto tráfego fazem da rotina diária um fardo caro e demorado. A corrupção do governo é frequente. O descompasso é especialmente amplo quando se trata de instituições que não passaram por reformas, como a polícia. Sua truculência contra os manifestantes indignaram a população", escreve o jornal.
Segundo o FT, os acontecimentos políticos não deixarão nenhum líder imune - e tal situação deve preocupar os mercados em relação aos mercados emergentes como um todo. O editorial aponta que o atual cenário é um aviso de que o descaso político e o dinheiro fácil da última década podem estar perto do fim.
Mercados - Também nesta quarta, o blog Beyondbrics, do FT, afirmou que, por ora, os protestos não afetaram o mercado financeiro. Ainda que a bolsa de valores brasileira esteja operando com volatilidade, abaixo dos 50000 pontos, e o dólar esteja em franca trajetória de valorização, o diário informa que investidores não estão preocupados com as manifestações no curto prazo. "Não encontramos nenhum analista que fizesse qualquer conexão entre as manifestações e os preços dos ativos", escreveu o Beyondbrics.
No entanto, o FT aponta que as manifestações resultam de crescimento econômico em desaceleração, alta dos preços e falta de ação para conter problemas estruturais - e tais fatores, sim, preocupam investidores.
cenariomt.com
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