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segunda-feira, 18 de março de 2013

Vídeos na internet mostram cultos em que deputado e pastor Feliciano faz críticas a gays

Quem condena as declarações do deputado federal, cantor gospel e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) nas redes sociais deve evitar ver os vídeos com suas pregações que circulam no YouTube. Perto deles as postagens no Twitter que renderam ao deputado uma acusação de discriminação contra homossexuais feita pela Procuradoria Geral da República no Supremo Tribunal Federal (STF), são fichinha. Os principais alvos do parlamentar em seus cultos, que atraem multidões Brasil afora, são os homossexuais e as religiões católica e de matriz africana. Mas também não faltam críticas aos colegas de Parlamento e aos fiéis pouco generosos na hora de ofertar “sementes”, como são chamadas pelo pastor as doações que podem ser feitas em dinheiro, cheque, cartão de crédito ou joias.
Alçado ao cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH) da Câmara, o deputado vive nos últimos dias sob fogo cerrado dos militantes dos direitos das minorias e da sociedade civil em geral, que pedem sua saída do posto. Mas se engana quem pensa que toda essa campanha para que ele deixe o comando da comissão enfraquece o parlamentar, eleito pela primeira vez em 2010 com 211 mil votos, a maior votação entre os candidatos evangélicos de todo o Brasil. Nos bastidores, Feliciano já conta com o milagre da multiplicação dos votos na disputa de 2014 e sonha com voos maiores. Quer ser o candidato do PSC, partido formado em sua maioria por pastores e líderes evangélicos, a presidente da República.
Em suas pregações, Feliciano se apresenta como “ungido por Deus” e “doutor em divindade”, garante ter lido a Bíblia 18 vezes e pregado em mais de 52 países. É dono de um programa exibido aos sabádos, apenas em São Paulo, por um canal VHF. Depois que virou deputado e passou a combater na Câmara o que ele chama de ativismo gay, ganhou mais visibilidade e tem atraído seguidores em diversos estados.
Sua pregação contra gays, no entanto, não é coisa recente. Em um vídeo de 2009 ele vocifera contra os homossexuais e também contra a Igreja Católica. Para ele, o catolicismo é uma religião “fajuta” e seus praticantes “seguidores de satanás”. A umbanda é uma “imitação barata” feita pelo diabo de um culto pentecostal. E a única religião verdadeira é a dele. Já em um dos seus programas de televisão o parlamentar comenta com os telespectadores sobre a inauguração da primeira filial da Catedral do Avivamento no Rio Grande do Sul, segundo ele o “estado menos evangelizado do Brasil”. “É um dos estados com o maior índice de feitiçaria, supera até a Bahia”, afirma.
Autor de um projeto de lei que garante a liberdade de expressão para líderes religiosos, Feliciano é um fenômeno no meio evangélico. Começou pregando em uma pequena igreja em Ribeirão Preto e aos poucos foi ganhando fama com sua oratória. Em 2009, montou sua primeira igreja, a Catedral do Avivamento, ligada à Assembleia de Deus. Hoje, ela já tem 13 templos, a maioria deles no estado de São Paulo. Sua página na internet recebe cerca de um milhão de acessos por mês e mantém um canal de televisão onde são exibidos vídeos com sermões e programas de entrevista.
Em uma outra pregação, Feliciano, que é casado e pai de três meninas, diz não querer que sua filha veja “dois homens barbudos, de perna raspada”, se beijando na rua. “Querem beijar, beijem dentro de suas casas, querem fazer suas porcarias , façam dentro de suas casas”, diz o pastor em um culto no ano passado. Apesar da fala recorrente e raivosa contra gays, Feliciano garante não ter nada contra os homossexuais. “Sou contra suas promiscuidades”, afirma o deputado pastor, que na mesma pregação se refere aos gays como “esse povo”. Para ele, “a Aids é uma doença que veio desse povo”. “Mas ninguém fala para não colocar eles em situação constrangedora”, prega Feliciano, aos berros, para uma igreja lotada de fiéis. Em outro culto, ele acusa os homossexuais de ficarem “a torto e a direito difamando, destruindo tudo que é sagrado e santo”.
Tropeço na história
Nem mesmo o Congresso Nacional e os colegas da Frente Parlamentar Evangélica escapam das críticas de Marco Feliciano (PSC-SP). Durante uma mistura de culto e show, ele diz que na Câmara dos Deputados só tem pessoas mal-educadas, que ficam falando ao mesmo tempo. Em outra oportunidade, também diante dos fiéis, diz ficar apavorado quando chega a Brasília na terça-feira. É que, de acordo com ele, o “diabo está infiltrado no governo brasileiro”.
Também não faltam críticas à Frente Parlamentar Evangélica, da qual ele faz parte. O deputado diz que não conseguiu votos entre os integrantes da frente para seu projeto que pretende fazer uma consulta popular para saber se a população é favorável ou não ao casamento gay. “Evangélicos eleitos com seu voto”, alerta o parlamentar em mais uma pregação contra os homossexuais.
Além de atacar os homossexuais, o pastor critica sempre os defensores dos direitos humanos e da causa gay. Numa dessas oportunidades ele tropeça na história. Diz que os ativistas usam os mesmos mecanismos que Stalin usou no seu “comunismo nazista”. O líder soviético Josef Stalin era comunista e não nazista, pelo contrário. Sob sua liderança a então União Soviética teve papel fundamental na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Na mesma pregação, ele atribui a Hitler uma máxima de seu propagandista Joseph Goebbels, para quem uma mentira repetida mil vezes acabava virando verdade.
“São homens e mulheres (ativistas do movimento gay) que usam os mesmos mecanismos que Stalin usou no seu comunismo nazista, que usam da mesma linguagem de Hitler, você sabe que Hitler criou uma frase, conhecida no mundo inteiro, que uma mentira repetida muitas vezes e com ênfase se torna verdade”, prega Feliciano. Mal sabe o deputado que ele e o líder soviético têm alguma coisa em comum: a perseguição aos gays.
Gestão longe da ideal
Enquanto todos os holofotes estão voltados para a posse do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, a gestão dos recursos da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) segue longe da ideal. Mesmo com o status de ministério conquistado no último ano do governo Lula, com a promessa de “maior autonomia institucional e peso político”, como o próprio site informa, a pasta segue com dificuldades para executar o orçamento.
No ano passado, de acordo com dados oficias do sistema de contas da administração pública, dos R$ 322,1 milhões previstos para serem aplicados pelo órgão em programas como os de promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes e de pessoas com deficiência, somente R$ 97,5 milhões (30%) foram desembolsados. O cálculo inclui os chamados restos a pagar, empenhos realizados em anos anteriores e não quitados. A ação de apoio à construção, reforma, ampliação e equipagem de unidades de atendimento a menores de 18 anos, por exemplo, não recebeu um centavo dos R$ 70,9 milhões estimados.
Em 2013, a secretaria terá R$ 366,6 milhões. Para o diretor do Conselho Deliberativo da ONG Conectas Direitos Humanos, Oscar Vilhena Vieira, a secretaria perdeu sua capacidade de implementar políticas e reduziu seu impacto nos últimos anos. Ele avalia que a eleição do deputado Marco Feliciano para a presidência da CDH da Câmara demonstra a fragilidade do ministério. “Não adianta falar que o Executivo não interfere nas questões do Legislativo, pois foi a bancada governista que o elegeu. A indicação do presidente daquela comissão tinha que estar afinada com o governo”, afirma Vilhena Vieira.
Outro lado A Secretaria de Direitos Humanos informou que o orçamento da pasta é inferior ao citado na reportagem e que não houve prejuízo da implementação das políticas. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, R$ 300 milhões foram autorizados em lei no ano passado. No total, R$ 124 milhões estavam previstos por meio de emendas parlamentares, incluindo os fundos nacional para a criança e o adolescente e o do idoso. O ministério admite que boa parte dessas emendas não foi liberada e que, além disso, houve contingenciamento de recursos. Esse congelamento reduziu o valor efetivamente para R$ 174,5 milhões. Na avaliação dos assessores, 97% da verba disponibilizada para a secretaria acabou empenhada (comprometida para pagamento futuro). 
diariodepernambuco

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