Após ficar por quatro anos sem sair de casa por conta do vício em jogos
online, a aposentada Helena Ferreira, de 54 anos, foi internada em uma
clínica de Araçoiaba da Serra (SP). Quem a vê hoje em dia sorrindo, com o
cabelo arrumado e maquiagem, não imagina que, há até quatro meses a sua
vida era bem diferente. "Abandonei família, lazer, abandonei de me
cuidar, de fazer as coisas que eu gostava, tipo ir para uma aula de
natação", lembra.
Vício de Isabel começou quando ela aceitou um
convite de amigos de uma rede social
(Foto: Reprodução/TV TEM)
O vício começou quando ela aceitou um convite de amigos de uma rede
social para disputar um jogo pela internet. Na época, ela criou uma
personagem, que era uma guerreira, só que não imaginava que fosse ficar
mergulada no mundo virtual durante tanto tempo. "Fiquei quatro anos sem
sair de casa", assume a aposentada, que, ao decorrer dos 48 meses, só
pensava em jogar e vencer as etapas do jogo.
Isabel engordou 35 quilos durante todo o tempo em que se rendeu aos
jogos no computador. Mesmo assim, não percebia que estava doente. "Não
tinha mais noção do tempo, não sabia quando era dia ou quando era noite.
Não tinha mais horário pra almoçar, pra dormir. Não atendia a
companhia, o telefone", relembra. Por conta disso, a família de Isabel
resolveu interná-la em uma clínica.
Não tinha mais noção do tempo, não sabia quando era dia ou quando era noite"
Helena Ferreira
A psicológa Ana Leda Bella explica que dificilmente a pessoa dependente
virtual percebe o problema e que, por isso, depende da ajuda de amigos e
familiares para se livrar do vício."Ela só vai perceber quando já está
com muitos danos ou quando as outras pessoas que convivem com ela já
estão reclamando. Mas a pessoa é sempre a última a perceber”
A aposentada está internada há quatro meses em uma clínica para dependentes químicos em Araçoiaba da Serra,
já que não existem locais especializados em dependência virtual.
Durante este período, ela não teve mais contato com a internet e deve
ficar assim por mais alguns meses. “Ela vai fazer uma reprogramação do
cérebro, tudo que ela viveu, ela vai aprender novamente. Vai aprender a
falar com as pessoas, a se alimentar, a cuidar do seu espaço”, frisa a
psicológa.
Não conseguir controlar o tempo de acesso à internet é um dos sintomas
de dependência virtual, segundo Ana Leda. Quando o mundo que existe
dentro do computador se torna mais importante do que aquilo que é real ,
como o convívio familiar, a profissão e a vida social, é sinal de algo
está errado. A psicológa alerta que euem deixa de cumprir tarefas
simples do cotidiano, pode estar começando a desenvolver a dependência.
Vício controlado
A dona de casa Lucélia Cristina Paes também passou pelo mesmo
tratamento a que Isabel está sendo submetida. Ela sofria de dependência
virtual e acessava dia e noite as redes sociais no celular. Por conta do
vício, teve depressão, emagreceu 30 quilos, se afastou da família e até
perdeu o emprego."Antes eu não levava os meus filhos na escola e não
dava atenção para eles. Minha filha sempre pedia, “mãe, vamos sair”. E
eu falava que depois eu ia, mas esse dia nunca chegava", desabafa a mãe.
O tratamento para ela se livrar da dependência virtual terminou há seis
meses. Por enquanto, Lucélia só acessa a internet uma hora por dia e
somente pelo computador, já que antes o celular era seu companheiro
inseparável.
Depois de todas as dificuldades que passou por não conseguir controlar o
acesso á internet, Lucélia hoje aconselha quem está sujeito a
desenvolver uma dependência. "As pessoas precisam colocar um limite,
quando ela perceber que não consegue ficar sem o celular é o primeiro
sintoma de que está viciada”, finaliza a dona de casa.
globo.com
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