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domingo, 28 de dezembro de 2014

Da rede pública à particular, cesarianas quase triplicam no Rio Mães com planos de saúde vão a hospital do município para tentar parto normal Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/da-rede-publica-particular-cesarianas-quase-triplicam-no-rio-14922742#ixzz3NCQIcsWz © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Grupo de gestantes de curso no Hospital Maternidade Maria Amélia de Holanda - Antonio Scorza / O Globo
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RIO - Quando começou a acompanhar uma amiga ao obstetra, Andrea Peil ouviu o que ele cobraria pelo parto, caso fosse normal: R$ 18 mil. Ao engravidar, meses depois, mesmo tendo plano de saúde, Andrea não teve dúvidas de que queria parto normal, mas sem pagar tanto. A advogada Genilma Salles, grávida pela primeira vez aos 40 anos, ouviu dos médicos de seu plano que o parto normal seria muito difícil. Para as duas, a opção foi a mesma: buscar a rede pública.
Se o assunto é desigualdade na hora do nascimento, a realização de cesarianas é um bom retrato da cidade. Na rede particular, 92,7% dos bebês deixaram a barriga da mãe graças à cirurgia. Na rede pública, a taxa fica em 35,6% nos hospitais municipais e 32,5% nos estaduais, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde para o ano de 2012.
Em toda a cidade, a taxa de cesarianas em 2013 foi de 57,04%. Mas, na Rocinha, só 36,36% dos bebês nasceram por cesarianas, enquanto em Botafogo a proporção foi de 74,74%, mostra a análise da ONG Rio Como Vamos para os dados da Secretaria Municipal de Saúde em 2013. Num caminho inverso ao de outros indicadores, como acesso ao pré-natal e gravidez adolescente, a mais alta taxa de cesarianas aparece nas áreas com melhores condições socioeconômicas.
Nas áreas pobres e na rede pública, o parto normal é mais estimulado. Na rede privada, a opção pela cesariana, seja de médicos ou pacientes, vem sendo quase automática, alerta Silvana Granado, uma das coordenadoras da pesquisa “Nascer no Brasil”, realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública. O Brasil é hoje campeão mundial em cesarianas, utilizadas em 56% dos partos em 2012. A taxa cai na rede pública para 44,5% e sobe na rede privada para 89,4%. A Organização Mundial da Saúde preconiza 15%.
APOIO AO PARTO ATIVO
Num movimento novo, mas persistente no Rio, mulheres de classe média ou mais alternativas, mesmo com acesso ao plano de saúde, têm buscado a rede pública para tentar um parto normal. E o destino delas é o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no centro do Rio. Parir na Maria Amélia, como é chamado o hospital que homenageia a mãe de Chico Buarque, virou opção para quem quer tentar o parto normal, com todas as dores, mas também vantagens, que ele traz.
Usuária da Unimed, a advogada Genilma Salles chegou à Maria Amélia, onde teve Bernardo, depois de passar pelo Ishtar, grupo de apoio ao chamado parto ativo (que reduz a quantidade de intervenções médicas). Não se arrependeu. Foi o mesmo caminho da empresária Aline Siciliano, de 39 anos, moradora de Teresópolis. Ela passou por quatro obstetras do plano no pré-natal e optou por uma médica particular no Rio, mas seu plano Unimed só bancaria o hospital se o parto fosse nas cidades serranas.
Ela teve Maria Clara na Maria Amélia, de parto normal. Não se incomodou em ficar na enfermaria — cada uma tem lugar para quatro mulheres com seus acompanhantes, além dos bebês. O hospital não tem berçário. O bebê fica sempre com a mãe, a não ser em casos específicos, em que precisa passar pela UTI neonatal.
A bióloga Ana Lúcia Baptista, doula (profissional que auxilia mulheres na hora do parto) há dez anos e integrante do Ishtar, diz que o grupo estimula a busca de evidências científicas sobre as vantagens do parto normal. Segundo ela, quando a mulher se informa, perde o medo e desiste da cesariana.
Para Andrea Peil, de 34 anos, optar pelo parto normal na rede pública foi opção política, como forma de usar um serviço que o cidadão financia com os impostos. Ela tem o plano do Exército, mas fez o pré-natal e o parto de Gabriela na Maria Amélia e aprovou.
— A gente não tem que pagar nem para nascer nem para morrer. Foi opção política e não me arrependo — diz ela.
HOSPITAL MARIA AMÉLIA É REFERÊNCIA
Na Maria Amélia, o índice de cesarianas é de 28%%, informa o diretor técnico, Wallace Mendes. Como a unidade é de referência, atende todo tipo de paciente. Todas são convidadas a visitar a maternidade e assistir a palestras sobre o parto. As participantes do projeto Cegonha Carioca, criado em 2011 para elevar os índices de pré-natal e humanizar o atendimento, recebem um kit de roupas e têm direito a acionar uma ambulância na hora do parto. Segundo a Secretaria de Saúde, 130 mil mães foram beneficiadas.
No ano passado, a maternidade Maria Amélia se envolveu numa polêmica após a morte de cinco bebês. As famílias culparam o hospital e a demora em fazer cesariana. O diretor técnico, Wallace Mendes, diz que os casos foram isolados entre os 4.995 partos de 2013:
— A cesariana é necessária às vezes, salva mães e bebês, e fazemos. Se a mãe insistir, faremos. Mas muitas mães já querem cesariana porque têm medo. Quando se informam perdem o medo. Parto normal é mais saudável para a mulher e o bebê, pois reduz infecções.
O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (Sgorj), Marcelo Burlá, considera inaceitável a taxa de 93% de cesarianas na rede particular do Rio, mas diz que a taxa de 15% preconizada pela OMS está desatualizada, pois é de 1985. Ele afirma que os médicos são normalmente os primeiros acusados pelo alto índice de cesarianas, mas que a questão é complexa, pois em geral os profissionais são mal remunerados pelos planos. Segundo Burlá, o médico recebe de R$ 400 a R$ 800 por um trabalho de parto que pode durar 12 horas:
— É aviltante. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) deveria fazer os planos de saúde pagarem mais. Com médico particular não há dificuldade.
Em meio à polêmica, a doula Ana Lúcia Baptista, o presidente da Sgorj e o diretor da maternidade Maria Amélia concordam num ponto: a mulher tem direito de se informar sobre riscos e vantagens de cada tipo de parto, normal ou cesariana, para escolher como quer dar à luz, desde que não ponha em risco a saúde da criança nem a sua própria.

globo.com 

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