O anúncio foi feito ao final de uma cúpula de emergência, à qual assistiram representantes de Guiné, Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim e da Organização Mundial da Saúde, para anunciar um plano de 100 milhões de dólares de resposta à crise sanitária. Crédito: Cellou Binani/AFP |
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram nesta sexta-feira que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus Ebola, que deixou mais de 700 mortos.
O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência em Conacri, capital da Guiné, para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o Ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e severos prejuízos econômicos, se continuar a se espalhar.
"Concordamos em adotar ações importantes e extraordinárias em nível transfronteiriço concentradas em regiões transfronteiriças, que respondem por mais de 70% da epidemia", declarou Hadja Saran Darab, secretária-geral do bloco União do Rio Mano, que reúne os países da África Ocidental afetados pelo surto.
"Essas áreas serão isoladas pela polícia e pelo Exército. As pessoas nestas áreas sob quarentena receberão ajuda material", destacou.
Os líderes de Serra Leoa, Libéria e Guiné usaram a cúpula, da qual também participaram representantes da Costa do Marfim e da OMS, para anunciar um plano de US$ 100 milhões de resposta à crise sanitária.
Centenas de especialistas e funcionários sanitários serão mobilizados para combater a epidemia.
Os três países também incentivarão os esforços para evitar e detectar casos suspeitos, instar uma melhor vigilância fronteiriça e reforçar o centro de coordenação sub-regional da OMS para combater a epidemia, na Guiné.
Darab não revelou a área exata que fará parte da zona de isolamento, mas o epicentro da doença tem um diâmetro de quase 300 km, espalhando-se de Kenema, no leste de Serra Leoa, a Macenta, no sul da Guiné, e abrange a maior parte das florestas no extremo norte da Libéria.
"Os serviços nessas regiões serão reforçados para que sejam realizados de forma eficaz o tratamento, os exames de detecção e o rastreamento", detalhou.
'Resposta inadequada'
Até agora, a resposta à epidemia foi, "infelizmente inadequada" e, em consequência, o vírus "está se movendo mais rápido do que os nossos esforços para controlá-lo", lamentou a diretora da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, que pede uma maior mobilização internacional contra a epidemia.
Virologistas americanos anunciaram que testarão uma vacina experimental. Os Estados Unidos já anunciaram a retirada de dois cidadãos americanos, contaminados pelo vírus na região.
"Se a situação continuar se deteriorando, as consequências podem ser catastróficas em termos de perdas de vidas humanas, mas também severas em termos socioeconômicos e do alto risco de contágio para outros países", disse Chan.
A propagação "está acontecendo em áreas rurais de difícil acesso, mas também em cidades densamente povoadas", descreveu Chan.
A reunião aconteceu depois que começaram a chegar os primeiros anúncios de suspensão de voos, como o da companhia aérea Emirates de Dubai.
Diante do agravamento da situação, o presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, e a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, negaram-se a participar de outra cúpula, prevista para acontecer em Washington, e que reunirá cerca de 50 chefes de Estado ou de governo africanos.
Washington já anunciou que a epidemia será parte importante dos temas em discussão nos três dias da cúpula.
Os participantes da cúpula EUA-África, na semana que vem, em Washington, procedentes de países afetados pela epidemia de Ebola, serão submetidos a exames médicos em sua chegada aos Estados Unidos, anunciou o presidente americano, Barack Obama, nesta sexta.
"As pessoas que vierem desses países e que tiverem até mesmo um risco marginal, ou infinitesimal, de terem sido expostas de alguma forma, nós garantimos que vamos examiná-las quando deixarem o (seu) país", declarou Obama a jornalistas, durante coletiva de imprensa na Casa Branca.
Medidas drásticas
Serra Leoa e Libéria tomaram medidas drásticas diante da epidemia de febre hemorrágica.
Horas depois de a presidente liberiana Ellen Johnson Sirleaf ordenar na noite de quarta-feira o fechamento de "todas as escolas", seu colega serra-leonês, Ernest Bai Koroma, decretou nesta quinta-feira o estado de emergência.
Koroma também anunciou medidas como colocar em quarentena as áreas afetadas pelo Ebola, mobilizar forças de segurança para proteger o pessoal médico e proibir as reuniões públicas, assim como organizar os locais onde se pensa haver doentes.
O médico belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus Ebola em 1976, no Zaire (hoje República Democrática do Congo, RDC), estimou que as dificuldades que Libéria e Serra Leoa têm para enfrentar a epidemia se devem a que "estes países saem de dezenas de anos de guerra civil".
Os temores de que o surto de Ebola na África se propague a outros continentes aumentam. Europa e Ásia se mantinham em alerta, e a organização Médicos sem Fronteiras advertiu que a epidemia estava fora de controle e os corpos da paz dos Estados Unidos anunciaram que estão deixando a região.
Estados Unidos e Itália já aconselharam seus cidadãos a evitar qualquer viagem "desnecessária" a Serra Leoa e, se possível, Guiné e Libéria.
As ruas da Monróvia estavam desertas nesta sexta-feira, com lojas e prédios públicos fechados após a decisão do governo de "desinfetar" esses edifícios.
"Estou desinfectando minha loja com cloro, sabão e desinfetante", disse à AFP Mohammed Kanneh, comerciante do mercado Red Light, o maior do país.
"Ninguém precisa dizer que o Ebola está aqui. Você vai sentir isso por onde quer que vá", afirmou Famanta Bears, de 34 anos.
diariodepernambuco
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