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domingo, 18 de maio de 2014

Morador de rua e catadora passam em concursos e servem de inspiração

Marilene Lopes catava latinhas antes de passar no concurso para técnico do Tribunal de Justiça do Distrito Federal Foto: Divulgação/ TJDFT
Ubirajara Gomes era morador de rua antes de passar para o Banco do Brasil Foto: Divulgação/ Banco do Brasil
Diana Figueiredo

Acreditar, estudar e mudar de vida. A fórmula pode não ser simples, mas driblando preconceitos e dificuldades, brasileiros encontram no serviço público a saída para melhorar suas condições. Para quem quer tomar outro rumo na carreira, pelo menos 7.576 vagas em concursos deverão ser abertas em breve. Para encorajar os leitores, o EXTRA foi em busca de exemplos de pessoas que superaram expectativas pessimistas e foram aprovadas em seleções. Sim, todo mundo pode passar!
Escriturário do Banco do Brasil (BB) há cinco anos, Ubirajara Gomes, de 33 anos, morava nas ruas de Recife (PE) quando foi aprovado numa seleção para a instituição. No dia do exame, Bira, como é conhecido, estava sem tomar banho havia 15 dias. Ele levou apenas um caneta azul, quando o cartão precisava ser preenchido com tinta preta.
— Passei de excluído a provedor de família. É importante estudar, perseverar e fazer concursos até passar — diz ele, que concorreu com 19 mil inscritos.
Bira morou nas ruas dos 15 aos 27 anos, completou os estudos com cursos supletivos, e ia para a escola comer. Também frequentava a biblioteca pública, onde pesquisava sobre concursos. Mas foi em 2007, após uma senhora pagar a taxa de inscrição do concurso do BB, que começou a mudar de vida.
— Vivia com papéis para cima e para baixo, sempre pesquisando. Ia fazer as provas a pé e não tinha nada para comer — lembra Bira, que agora é casado e tem duas casas.

A estudante Tamiris D’ávila, de 21 anos, foi aprovada no último concurso para a Caixa: ela respondia a até 200 questões por dia
A estudante Tamiris D’ávila, de 21 anos, foi aprovada no último concurso para a Caixa: ela respondia a até 200 questões por dia Foto: Extra / Nina Lima

Aprovada em primeiro lugar na seleção para técnico bancário da Caixa Econômica Federal, no polo de Nova Iguaçu, Tamiris D’ávila, de 21 anos, só conseguiu estudar porque correu atrás de uma bolsa de estudos na Academia do Concurso. A avó ajudava a pagar as passagens, e a dona da cantina do curso deixava que ela esquentasse sua comida no local:
— É preciso superar os bloqueios. Eu achava que nunca ia aprender Matemática. Fui estudando e gabaritei a prova.
Ex-servidor, o professor José Wilson Granjeiro diz que a aprovação depende de muita disciplina nos estudos:
— Não é preciso ser superdotado para passar, só ter motivação. Eu usava apostilas emprestadas e morava num trailer.
Ganhos de R$ 50 para R$ 4 mil a cada mês
Dois dias após dar à luz o quinto filho, a então catadora de latinhas Marilene Lopes, de 40 anos, viu a vida mudar radicalmente. Isso foi há 13 anos, quando ela tomou posse como técnica judiciária no Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT). Ela morava numa invasão em Brazlândia, e ganhava cerca de R$ 50 por mês com a venda das latas. Agora, recebe R$ 4 mil.
— Foi um sonho realizado. A dica para quem também quer fazer concurso é não escutar as pessoas que botam empecilho em tudo e dizem que não vai dar certo — diz.
Marilene sabia que precisava mudar de vida e, depois de uma cirurgia para corrigir o lábio leporino, ela passou uns dias na casa da mãe e começou a estudar com a irmã.
— Depois, pedi de R$ 5 em R$ 5 para os amigos, e o meu ex-marido me deu R$ 10 para pagar a taxa de inscrição que era de R$ 25 — lembra.
Ela estudava 12 horas por dia, consultava as palavras e os termos técnicos no dicionário e, então, os decorava.
— Hoje, todos os meus filhos estudam, e a mais velha está fazendo faculdade de Direito — comemora.
Confira os concursos públicos que serão abertos ainda este ano:
Anatel e Antaq
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) abrirá cem vagas, até junho, para cargos de níveis médio e superior. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) vai abrir 143 postos de níveis médio e superior, até julho. As remunerações serão de R$ 5.418,25 (nível médio) e R$ 5.674,25 (ensino superior).
Corpo de bombeiros
A corporação deverá divulgar, até o fim do ano, um edital com 150 vagas de guarda-vida, com exigência de nível médio.
DPU
A Defensoria Pública da União (DPU) fará uma seleção para níveis médio e superior. O salário de um cargo de nível superior, hoje, é de R$ 4.620,82. O de agente administrativo, de nível médio, é de R$ 3.191,02.
Inca
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) prepara uma seleção com 583 vagas de níveis médio e superior. Os salários atuais variam de R$ 2.702 a R$ 5.514 (este último para pesquisador).
Polícia Federal
A corporação deverá abrir 600 vagas para agente. O vencimento inicial, hoje, é de R$ 7.514,33, com exigência de nível superior.
Polícia Militar
O edital com seis mil vagas de soldado deverá sair em junho. Para concorrer, será preciso ter nível médio completo, carteira de habilitação e de 18 a 30 anos. O salário atual é de R$ 2.320, sem as gratificações.
Magistério
A Secretaria estadual de Educação já está preparando um novo concurso para professores de todas as disciplinas. O edital sairá até o início de setembro, e o total de vagas ainda será fixado. O salário inicial, hoje, é de R$ 2.028 (jornada de 30 horas semanais) ou R$ 1.081 (16 horas semanais).
Tribunal de justiça
O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) vai promover um concurso no segundo semestre deste ano. Para nível médio, as chances serão de técnico de atividade judiciária, com salário inicial de R$ 3.518,13. Para nível superior, as vagas costumam ser de analista para quem tem qualquer formação superior, com salários de R$ 5.794,26 a R$ 7.532,54.


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