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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Juiz da PB condena grupo que lucrava com 'cura pela fé' e manda queimar materiais religiosos Condenação dos réus, divulgada na segunda-feira (14) criou polêmica no município sobre duas vertentes, a questão do respeito aos cultos afro e o charlatanismo, através do uso da boa fé das pessoas para obtenção de lucro

Reprodução/ Portal Vale do Piancó Notícias
Objetos da cultura afro-brasileira foram queimados
O uso da 'cura pela fé' com finalidade de obter lucro foi alvo da justiça paraibana da cidade de Conceição, no Sertão do estado, distante 482 quilômetros de João Pessoa.
Esta semana, o juiz da Comarca do município, Antônio Eugênio, condenou um grupo formado por cinco pessoas lideradas por Ricardo de Oliveira, conhecido como 'Professor Saturno'. Além de condenar os réus, ele determinou que os objetos utilizados pelo grupo fossem incinerados.
A sentença condenou o grupo por formação de quadrilha, extorsão e falsificação de produtos terapêuticos. Professor Saturno teve pena de 15 anos de reclusão e os demais acusados, João Alves de Paula Filho, José Ferreira Xavier, Airon da Silva Gomes e Mauro Sérgio Medeiros de Assis, pegaram sete anos e quatro meses.
A condenação dos réus, divulgada na segunda-feira (14) criou polêmica sobre dois temas no município: a questão do respeito aos cultos afro-brasileiros e o charlatanismo, através do uso da boa fé das pessoas para obtenção de lucro.
De acordo com a decisão do juiz paraibano, o réu agiu com dolo, ou seja, com intenção de enganar, e causou transtornos psicológicos às vítimas, pessoas humildes e de boa fé.
O grupo foi detido durante uma operação das polícias Militar e Civil em 2007, quando foram apreendidos computadores, veículos e uma quantia de R$ 9.350. Segundo as investigações, os acusados agiam num local chamado de 'centro esotérico' e aplicariam golpes usando a cura pela fé.
A solução de todos os problemas, inclusive enfermidades, era prometida às pessoas, cujas consultas custavam R$ 50. Os chamados trabalhos espirituais, com o uso de ervas, banhos e velas, chegavam a custar até R$ 2 mil. O grupo divulgava os 'serviços espirituais' através de site na web, rádios, programa de televisão e telefone.
O advogado dos réus, Joaquim Lopes, informou que o grupo irá recorrer da decisão judicial e os condenados aguardaram o julgamento em liberdade.
Antônio Eugênio, juiz da Comarca de Conceição
Foto: Antônio Eugênio, juiz da Comarca de Conceição
Créditos: Reprodução/Vale do Piancó Notícias
Cultura Afro-brasileira
Após a sentença condenatória, o juiz Antônio Eugênio determinou que os objetos apreendidos fossem incinerados. A queima dos utensílios esotéricos, como velas, óleos e pequenas esculturas, aconteceu nessa quarta-feira (16).
A decisão do juiz de incinerar os utensílios da cultura afro-brasileira, no entanto, não foi aprovada pela presidente da Federação dos Cultos Afro-brasileiros de João Pessoa, Mãe Penha de Iemanjá.
Na opinião dela, os objetos em si não representam charlatanismo e o ato de queimá-los só incentivaria o preconceito às religiões afro-brasileiras. "Aprovo a decisão da justiça de condenar pessoas que usam a boa fé e os preceitos dos cultos afro com fins malignos e com intenção de ganhar dinheiro com a boa fé dos outros, mas os objetos em si não representam isso. Eles poderiam ter sido doados", ratificou.
Mãe Penha de Iemanjá lembrou que os cultos das religiões afro-brasileiras praticam o bem e fazem parte da cultura do país e reforçou que, infelizmente, no Brasil, existem pessoas que usam dessa cultura para denigrir, deturpar, fazer coisas do mal e ainda obter lucros indevidos usando a boa fé.
"Esse tipo de gente deve ser combatida sim, para que os conseitos da cultura e da religiosidade afro-brasileiras seram revistos e o preconceito seja transformado em respeito", opinou. 
Grupo usava a cultura afro-brasileira em Conceição
Foto: Objeto do grupo que fazia uso da cultura afro-brasileira em Conceição
Créditos: Reprodução/ Portal Vale do Piancó Notícias 
Quanto à questão da cobrança nos cultos afro, Mãe Penha disse que elas nunca devem ser exorbitantes e que os seguidores das crenças devem pagar aquilo que podem e não quantias pré-estipuladas.
"Claro que as mães e pais de santo precisam pagar luz, água e as despesas do centro de cultos, mas os recursos devem partir das pessoas que querem ajudar e da forma como podem", ressaltou.

portalcorreio

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