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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

‘O câncer de próstata é o segundo tumor mais frequente em homens’, diz urologista Médico André Luís Alonso Domingos, fala sobre a doença e a campanha de conscientização


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Foto: Gerson Walber / Correio do Estado
Segundo o urologista, se o tumor é restrito à próstata, normalmente existe 90% de chances de cura

A exemplo do que aconteceu em outubro, marcado como o mês de combate ao câncer de mama, com o ‘Outubro Rosa’, o mês de novembro chega trazendo a campanha de conscientização dirigida ao público masculino, sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. Nesta entrevista, o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Seccional MS, André Luís Alonso Domingos, fala a respeito da campanha de conscientização para que o homem procure o médico e faça seus exames regularmente, após os 40, 45 anos; sobre o funcionamento de um centro específico para o homem na Capital e sobre o diagnóstico e tratamento da doença.
CORREIO PERGUNTA A exemplo do “Outubro Rosa”, foi criado o “Novembro Azul”, ligado à prevenção do câncer de próstata. Quais as ações que estão sendo feitas diretamente junto à população para conscientização dos homens em MS?
André Luís - Campo Grande é uma das cidades no Brasil onde há o Centro de Referência de Atendimento ao Homem, próximo à Unidade Básica de Saúde (UBS) do Coronel Antonino, que funciona há mais de quatro anos. E, além disso, há o Centro de Especialidades Médicas (CEM) – e aqui eu estou falando no nível de saúde pública. Qual é o correto para o Sistema Público de Saúde? O paciente vai à UBS, faz uma consulta com o clínico geral e, se ele tem critérios de indicação para passar com o urologista, para prevenção do câncer de próstata, será encaminhado tanto ao CEM quanto ao Centro de Atendimento do Homem. Neste local, estão estritamente urologistas; no CEM , ele também é encaminhado para a urologia do local. E, a partir daí, faz um exame – não precisa ir para um hospital para fazê-lo. Normalmente, o médico da UBS pede o PSA – que é o exame de diagnóstico inicial – e quando vai para o Centro de Saúde do Homem ele já está com este exame, com todo o histórico, e o médico faz a entrevista e realiza o toque retal.
Vamos distribuir panfletos em consultórios médicos, no Centro de Saúde do Homem, também. E haverá cartazes para conscientização nas UBS.
Em quantos municípios de MS existe este Centro de Atendimento à Saúde do Homem?
Eu acredito que apenas em Campo Grande.
Então, este “Novembro Azul”, no caso de Campo Grande, veio apenas para reforçar a necessidade da prevenção?
Isso, trata-se de uma campanha mais de conscientização da população, para que os homens procurem o atendimento e façam uma prevenção do câncer de próstata. Na verdade, o termo prevenção não é muito correto. Porque prevenção é quando você, por exemplo, toma uma vacina que evita que você tenha a doença. É para que o homem venha precocemente ao urologista e, se ele tiver alguma coisa, seja detectada numa fase inicial, na qual temos chance muito maior de cura.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás do câncer de pele. O senhor sabe me dizer quantos casos foram registrados em MS neste ano e o número de óbitos pela doença?
Os números existentes são divulgados sempre pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer). Para o Brasil, no ano de 2012, estimaram-se 60.180 casos novos de câncer de próstata. Esses valores correspondem a um risco estimado de 62 casos novos a cada 100 mil homens. Na região Centro-Oeste, depois do câncer de pele, é o mais frequente (75/100 mil). Esta é a última estatística disponível.
O número de óbitos pela doença é grande?
O que ocorre hoje é que o câncer de próstata é o segundo tumor mais frequente em homens. O primeiro é o de pele, mas, se você desconsiderar este, que tem muito tumor benigno, o câncer de próstata é o que mais acomete os homens. E se você comparar o câncer de próstata com o de mama, a incidência para o câncer de próstata para 2014 é maior do que o de mama. E muito menos divulgado.
Quando é detectado no início, quais as chances de sobrevivência?
Se o tumor é restrito à próstata, normalmente nós temos em torno de 90% de chances de cura. Apenas com tratamento.
Ele evolui rapidamente ou é mais lento?
Dos tumores urológicos, ele é o de crescimento mais lento, diferente de um tumor de testículo ou de rim. Isso não quer dizer que o paciente não possa morrer pela doença. Porque, como ela dá poucos sintomas, o paciente não sente que está com o tumor, ele vai tendo crescimento lento. Se o paciente não procura o médico, no momento em que ele tem o sintoma, o tumor já está numa fase em que o tratamento é mais difícil de ter sucesso. Oitenta por cento dos tumores de próstata não dão sintomas, já que estão na periferia da próstata, e não no meio dela, onde atrapalharia o indivíduo ao urinar – isso aconteceria mais na fase final do tratamento. Até o tumor chegar ao canal da urina, demora. Por isso, são necessários os exames, para que se possa fazer o diagnóstico o mais precocemente possível.
Esta pode ser considerada uma doença apenas da terceira idade? Quais são os fatores de risco?
Os principais fatores de risco são a idade – quanto mais velho o paciente, mais chance dele apresentar o problema. O ideal é que os exames comecem a ser feitos a partir dos 40 anos. Mas a idade, normalmente, mais frequente, é a partir dos 70. Porém, eu já operei pacientes com 45, 50 e 60 anos. Além disso, os fatores de risco: a raça negra é um, muito importante, além do consumo de gordura saturada (de origem animal). E o histórico familiar também entra nestes fatores de risco. Destes todos aqui, a gente só pode modificar o consumo de gordura saturada, por isso, a importância de se procurar com antecedência o médico.
Este tumor é sempre maligno?
Todo tumor, câncer de próstata, é maligno. Toda vez que nos referimos a tumor de próstata, estamos nos referindo à neoplasia maligna do local. Para ser benigno, tem outra nomenclatura: hiperplasia benigna da próstata (HBP).
Há sintomas? Quais e em qual momento?
Podemos dizer a dificuldade para urinar, sangramento na urina e, às vezes, numa fase mais avançada, a dor óssea, como a dor na coluna . Porque o principal ponto de metástase, de disseminação do câncer de próstata, é a coluna vertebral.
Parece que o homem cuida mais de seu carro do que da própria saúde. Por que há tanta resistência masculina em fazer o exame para a prevenção?
Isso é uma verdade, mas nos últimos 5 a 10 anos isso vem mudando, porém, ainda não de maneira satisfatória. Há uma pesquisa de 2009, feita pela USP junto a outro pesquisador, mostrando que apenas 33% dos homens procuram fazer exames de prevenção. E a gente acha que vários fatores contribuem para a baixa procura: um deles é a falta de informação – e aí a imprensa e a sociedade têm grande papel nisso, como o “Novembro Azul”. E, ainda, o próprio preconceito machista que existe na sociedade, de que homem não pode fazer toque retal. Este é um exame indolor, muito rápido de ser feito. E, normalmente, eu não tenho dificuldade alguma em fazer o exame em todos os pacientes que vêm ao meu consultório e a quem eu explico a real necessidade de fazer o toque.
O senhor poderia explicar qual a sequência de exames feita até o diagnóstico?
Em teoria, o exame de toque é complementar ao exame de PSA e vice-versa. Eles são exames complementares, não que se excluem. Não está correto o médico fazer apenas o exame de PSA, mesmo que ele esteja normal, porque há casos em que é apontada a normalidade e aí se detectam nódulos no toque retal – e este paciente tem indicação de biópsia prostática também. Na verdade, o diagnóstico não é feito com PSA e com exame de toque, são exames de rastreamento. A biópsia é que vai mostrar se é tumor maligno ou não. Então, PSA alterado ou que evoluiu muito rapidamente no último ano, bem como nódulo no toque retal na próstata são indicações para biópsia de próstata.
A retirada do tumor maligno influencia posteriormente na potência masculina?
Pode influenciar. Hoje, com as técnicas mais apuradas nos procedimentos cirúrgicos e da preservação da enervação do pênis na cirurgia, é menor. Porque o feixe que enerva o pênis, responsável pela ereção, passa por baixo da próstata. E quando você retira este órgão, às vezes, pode haver dano a este tipo de nervo. Ocasionalmente, ele é difícil de ser visualizado. Pode ser que o tumor tenha se estendido um pouco fora da próstata e não se pode preservar o nervo. Mas, hoje, com as técnicas de preservação do nervo, aumentaram-se as chances de o indivíduo ficar potente. Mas ainda existe este risco da impotência. E quanto mais idoso for o paciente que vai para a cirurgia, maior a chance de impotência. Porém, é preciso explicar que, mesmo que isso ocorra, há vários tipos de tratamento que promovem a ereção.
O que o senhor acha que é ideal para atrair os homens a frequentar os Centros de Atendimento ao Homem?
Em primeiro lugar, tem que haver uma política pública de facilitar o acesso desta população ao urologista. Depois, é preciso ter uma rede para se fazer as biópsias adequadamente. E, por fim, precisa-se de centros que possam fazer o tratamento deste paciente, caso ele tenha o câncer de próstata: seja ele um tratamento cirúrgico ou, por exemplo, uma radioterapia.

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