A barriga, que até gol de título fez, segue dentro dos parâmetros da boa forma, modelada pelo sagrado vício do futevôlei. Mas já dura nove meses, tempo equivalente ao de uma gestação, o período de férias de Renato Gaúcho. Desde que deixou o Atlético-PR no dia 1º de setembro, alegando problemas particulares, o treinador aproveita a vida em Ipanema, numa rotina que inclui a única filha, Carolina, 18 anos. Mas, ultimamente, Renato vai empurrando o ócio com a barriga. Está chegando a hora de trabalhar.
Como você acompanha os primeiros passos da sua filha como modelo? Estou observando só de longe, mas vou me meter quando for preciso. Sinto que o negócio dela vai ser fotografia. Para desfilar, teria que emagrecer. Eu não vou afinar minha filha, que tem o corpo perfeito.
Tem ciúmes dela?
É minha única filha, é mulher... Conheço todas as mutretas em relação a mulher. Ela tem que saber se defender. Lógico que tenho ciúmes. Uma menina de 18 anos, inocente... Dou as dicas para ela ficar esperta.
Acredita na frase "aqui se faz, aqui se paga"?
Tá maluca? O ditado é assim: "Aqui se faz, aqui nããão se paga" (risos). Deixaria sua filha posar nua?
Deus me livre! Quanto a Playboy daria a ela? Pode acreditar que darei o mesmo valor para ela ficar em casa quieta. Minha filha, não! Até o jornaleiro da rua já perguntou a ela quando vai sair na Playboy. Não dá, né?
E você? Quando voltará ao trabalho?
O Cruzeiro me ligou, mas acabou optando por contratar o Celso Roth. Agora é que vai começar a dança dos técnicos. Mas foi bom eu ter dado uma parada. Estava precisando de férias.
É verdade que os jogadores do Flamengo ligaram para você pouco antes de o Vanderlei Luxemburgo ser demitido?
Posso falar em off? Não... Ah, eles me ligaram, sim. O Flamengo estava na Bolívia. O Leo Moura foi quem me ligou primeiro. O Ronaldinho ligou depois. Eles disseram que o Vanderlei não ficaria e que já tinham falado com a Patricia (Amorim) que me queriam lá. Achei até bacana eles terem pensado em mim. Mas não acha que eles erraram com o Vanderlei? O que você disse?
Falei que não conversaria sobre o assunto enquanto o Flamengo tivesse treinador. Houve resistência ao seu nome na Gávea?
Acho que não. Mas, se houve, é uma coisa normal. Vida de treinador é assim. Para mim, o Flamengo já tinha acertado com o Joel. Já estava tudo engatilhado. O que achou da saída do Ronaldinho do Flamengo?
Não quero me meter em polêmica. Só digo que é ruim para todo mundo. Um clube como o Flamengo, um jogador como o Ronaldinho... É ruim para os dois lados.
Você é amigo do Ronaldo?
Sou muito amigo dele. Para mim, continua sendo um dos melhores do mundo. Cabe ao técnico fazer com que ele jogue. Não dá para ignorar a qualidade do Ronaldinho, né?
Lembra de algum episódio em que você tenha conseguido influenciar um craque?
Houve um momento em que Romário não queria mais jogar (em 2005, no Vasco). Eu disse: "Vai continuar, sim. O time precisa de você. Eu preciso. E você precisa encerrar bem a carreira". Sabe o que aconteceu? Ele foi o goleador (22 gols) do Campeonato Brasileiro. É o que digo: o treinador tem que saber levar o cara.
Não acha que Ronaldinho está em declínio?
É claro que a gente percebe que ele não rende mais o que pode. Mas ele está com um problema... Ah, quer saber? Não é problema meu. Faz parte do trabalho do treinador saber levar o cara. Como é que eu não ia convencer o Romário, se eu precisava dele? Se o cara é uma estrela, é fundamental ganhá-lo. Jogadores como Ronaldo e Romário causam um ou outro problema ao clube, mas enchem o adversário de gols. Como vou brigar com o cara que garante meu emprego? Mas Ronaldinho cansou de cometer indisciplinas, como chegar atrasado aos treinos...
Chegou atrasado? Multa o cara, ué! Minha cartilha é essa: multa. Deixo dois representantes do time tomando conta da caixinha. Não é preciso descontar do salário. O negócio é descontar do bicho mesmo.
Como funciona a multa? É só descontar R$ 30 ou R$ 40 por minuto de atraso. Experimenta mexer no bolso do jogador, e você vai ver que ele começa a entender rapidinho. Se teu filho quebrar um copo por dia e você der porrada nele, ele vai continuar quebrando os copos. O negócio é trazer o cara para você.
A facilidade em se relacionar com os jogadores é uma qualidade sua como treinador?
É. Poucos treinadores têm. Só quem jogou, aprendeu. Isso me ajuda. Jogador nenhum me engana. Eu digo: "O que você ganhou eu também ganhei". Tenho 20 anos nisso. Joguei com os maiores craques, os maiores bandidos do planeta. Vai me enganar como?
É difícil lidar com craques?
Difícil é o cara que acha que joga e não joga. Para mim, craque é solução.
Tem saudade do trabalho?
Aproveitei para curtir minha filha, joguei meu futevôlei, não tive hora para dormir ou acordar, mas já deu. Agora é hora de voltar a trabalhar. Tenho que esperar. Jamais vou me oferecer, jamais vou ligar para um clube se souber que o treinador está para cair. Só começo a conversar quando o clube se livra do técnico. Não vou nem aos programas de televisão. Daqui a pouco vão dizer que, por causa dessa entrevista que estou dando para você, estou forçando a barra... Mas, da minha parte, os treinadores podem ficar tranquilos. Sou ético.
O futebol é um meio bacana ou podre?
Tem os dois lados. Mas, quando coloco a cabeça no travesseiro, durmo tranquilo. Não tenho inimigo no futebol. Olho nos olhos de qualquer um. Seja presidente, jogador ou jornalista.
Saiu aborrecido do Grêmio?
Como é que vou sair aborrecido do meu clube? De jeito nenhum. Está tudo tranquilo.
Revista do CaririExtraonline
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