Emprego público, carteira assinada, férias, 13º salário. Uma vaga no funcionalismo público é o sonho de muita gente no Brasil. Mas para algumas brasileiras, que viveram experiências ruins como divórcio ou demissão, a melhor opção foi largar tudo aqui para recomeçar a vida nos Estados Unidos com um trabalho novo: o de domésticas.
As brasileiras que chegam aos EUA sem garantia de emprego acabam aceitando os mais diferentes tipos de trabalho informal. E serviços como de empregada doméstica acabam atraindo muitos brasileiros em Estados com grande concentração de compatriotas, como a Flórida.
Mas seja fazendo faxina ou cuidando de casa de família, elas não veem o menor problema em pegar em baldes e vassouras para ganhar a vida — e garantem que não sentem falta do trabalho que tinham no Brasil.
Segundo brasileiras entrevistadas pelo R7, uma empregada doméstica nos Estados Unidos ganha em média de 10 a 12 dólares por hora. Em uma semana, elas chegam a tirar de R$ 940,00 a R$ 1.090 (500 a 580 dólares), dependendo do tipo de trabalho realizado.
Gilceia Maria da Silva, de 54 anos, mudou-se para a Flórida após se separar do marido. Ela é advogada formada e trabalhava na procuradoria do INSS, em São João da Barra, interior do Rio de Janeiro.
Na Flórida há 13 anos, ela já fez todo tipo de serviço: como “help”, ajudando outras pessoas a fazer faxina, e como “living in”, morando em casa de família. Nesse período, ela chegava a ganhar de 30 a 40 dólares, por faxina, e limpava de três a quatro casas por dia.
— As casas são imensas e eles têm mania de usar produtos muito fortes. Uma vez usei o “clorox” (marca de água sanitária) na casa de uma mulher e passei mal, minha garganta fechou. Eu não sabia o potencial do “clorox”, o cheiro é muito forte.
Sônia Cristina Gomes, de 50 anos, também se mudou para os Estados Unidos após uma separação.
Há 12 anos morando em Miami, ela garante que “é melhor fazer faxina do que trabalhar em banco”. Contratada por uma empresa de faxina, ela chega a limpar de três a quatro casas por dia.
— No banco eles pagam seis dólares a hora. [Aqui] eu recebo 12 dólares a hora.
No Brasil, Sônia era dona de casa e tinha um haras onde criava cavalos e cachorros. Quando se separou do marido, sua situação financeira piorou e ela começou a pensar em ir morar no exterior. Dois anos e meio após a separação, ela viajou para os Estados Unidos e não voltou mais.
Já Gilceia, pelo contrário, resolveu dar uma “passadinha” no Brasil desde sua primeira mudança para a Flórida.
Mãe de dois filhos, ela voltou para a formatura do mais velho, que estava se tornando médico. Gilceia acabou retomando o antigo emprego, no INSS. Ela passou um ano e seis meses no Brasil, mas, devido ao baixo salário, resolveu ir aos EUA novamente.
— O que eu ganhava era muito pouco, eu não conseguia me sustentar sozinha. Passei até fome.
Em busca da aposentadoria
Antes de se mudar para os Estados Unidos, Maria da Conceição Guerra, 52 anos, trabalhava na empresa de telefonia de Natal, Rio Grande do Norte. Quando faltavam cinco anos para se aposentar, ela foi demitida.
— Eu não queria nem procurar emprego no Brasil, só queria vir para cá (Flórida) e pagar a minha aposentaria.
Maria da Conceição trabalha há cinco anos cuidando da casa de uma família americana.
— É muito tranqüilo. Eu tenho meus dias de folga, posso sair, caminhar e fazer as minhas coisas.
Nesse tipo de serviço, que rende R$ 3.700 por mês (cerca de 2.000 dólares trabalhando oito horas por dia), ela faz de tudo um pouco: limpa casa, lava roupa e até ajuda no cuidado com as crianças.
Trabalho ilegal
A maior dificuldade que as imigrantes brasileiras encontram ao chegar aos Estados Unidos são os primeiros anos de adaptação e, principalmente, a regularização no país.
“Os três primeiros anos foram horríveis, eu não tinha documentos, nem falava o idioma”, conta Conceição.
De acordo com a organização norte-americana Aliança Nacional de Trabalhadores Domésticos (NDWA, na sigla em inglês), existem 2,5 milhões de empregados domésticos nos EUA. Cerca de 23% deles são imigrantes ilegais, diz a NDWA.
O R7 entrou em contato com os consulados brasileiros em Washington e Miami, além do consulado dos EUA em São Paulo, mas nenhuma das representações diplomáticas soube informar a quantidade de brasileiras trabalhando como domésticas nos Estados Unidos.
Apesar das dificuldades iniciais, Gilceia, Sônia e Conceição estão bem resolvidas hoje no novo país. Elas têm seus carros, casa e documentos. Sônia casou-se de novo, com um americano, e Conceição aguarda o final do seu processo de legalização.
É por esses e outros motivos que Gilceia, apesar da distância dos filhos, não pensa em voltar ao Brasil.
— Eu faço de tudo para ficar, se me pedirem para eu arrancar o dedo mínimo do pé, eu arranco.
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