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domingo, 7 de setembro de 2014

Abundante em Bauru, ipê poderá ser usado para combater leucemia Pesquisadores produziram moléculas derivadas da árvore que são capazes de atuar sobre glóbulos brancos cancerígenos

Antes da chegada da primavera, ipês-rosa coloriram a quadra 11 da avenida Getúlio Vargas
Uma das árvores mais características de Bauru, o ipê poderá se tornar um importante aliado no tratamento de leucemia, tipo de câncer que afeta os glóbulos brancos, células responsáveis pelo sistema de defesa do organismo. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) produziram três moléculas derivadas da árvore nativa do cerrado que são capazes de atuar sobre glóbulos brancos cancerígenos, sem afetar as células saudáveis.
 
A descoberta poderá ser o caminho para a criação de medicamentos específicos para o tratamento de diferentes tipos de leucemias. O trabalho foi publicado na revista científica European Journal of Medicinal Chemistry.
 
Os pesquisadores criaram as moléculas da união do núcleo das células de outras duas substâncias - uma delas derivada do ipê - e as testaram em quatro linhagens diferentes de leucemia: duas de linfoide aguda, mais comum em crianças e com prognóstico melhor; e duas de mieloide aguda, mais rara, mas responsável pelos casos mais graves. 
 
Dos 18 compostos criados, três se mostraram mais potentes e com seletividade maior - atacaram as células cancerígenas e, em menor grau, as células saudáveis. E, principalmente, tiveram comportamento diferenciado em relação às linhagens de leucemia. Uma delas se mostrou 19 vezes mais potente sobre células de leucemia linfoide do que sobre as de leucemia mieloide.
 
“É a primeira vez que se investigam as moléculas oriundas dessa estratégia de junção de núcleos em diferentes linhagens de leucemia. E o mais importante é conhecer esse perfil de atividade de acordo com a linhagem. A leucemia é um dos tipos de câncer que mais afetam crianças e, por trás dela, se esconde uma grande diversidade de doenças. O grande problema da terapia é a falta do medicamento específico para cada tipo de leucemia”, afirma o farmacêutico Floriano Paes Silva Junior, chefe do Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do IOC.
 
Natural
 
As moléculas foram preparadas pelo grupo coordenado pelos pesquisadores Fernando de Carvalho da Silva e Vitor Francisco Ferreira, da UFF, com base no núcleo das células de duas substâncias. Uma delas é derivada de um produto natural extraído do ipê. Esse núcleo pertence à classe química das quinonas. “O que nós queremos é matar as células malignas, mas as quinonas costumam ter baixa seletividade, ou seja, matam também as células saudáveis”, disse Silva Junior.
 
Os cientistas combinaram, então, o núcleo da quinona com o de outra molécula, chamada triazol, que tem a capacidade de atingir somente as células cancerígenas. Silva Júnior ressalta que esse é o “primeiro passo” para a criação de um fármaco. Mas testes e análises ainda devem levar pelo menos dez anos. 
 
No passado, bauruenses já usavam casca do ipê contra o câncer
 
Em décadas passadas, ainda sem embasamento científico, a sabedoria popular criou uma “onda” que levou bauruenses a tomar chá de ipê-roxo como terapia complementar para o combate ao câncer. A parte interna da casca do caule da árvore era raspada e imersa em água quente.
 
“Isso faz mais de 30 anos. Na época, a procura foi muito grande”, comenta Cláudio Sampaio, diretor do departamento zoobotânico da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma). “A gente não sabe se funcionava, mas algum fundamento deveria ter”, completa. 
 
O uso medicinal do ipê-roxo, de fato, é bastante antigo. A árvore, inclusive, recebeu o nome científico de Tabebuia impetiginosa porque, no passado, sua casca era utilizada para produzir um chá que combatia a doença do impetigo, inflamação na pele do rosto.
 
Além de ter efeito anti-inflamatório, o ipê-roxo também possui propriedades cicatrizantes, analgésicas, sedativas,  tônicas e anti-microbianas. Em farmácias especializadas, já possível encontrar até mesmo extrato da árvore em cápsulas, fluídos ou até mesmo pomadas.
 
Mas não apenas esta espécie possui uso medicamentoso. Da mesma forma, o ipê-amarelo, por exemplo, pode ser utilizado no tratamento de dermatoses, pruridos, coceiras, eczemas, inflamações da gengiva e da garganta. Mas, em todos os casos, o acompanhamento médico é recomendado, já que superdosagens podem provocar náuseas, vômitos, diarreia e efeito anticoagulativo do sangue, entre outros sintomas.
 

São cerca de 7 mil árvores na cidade
 
A estimativa da Semma é de que a área urbana de Bauru conte, aproximadamente, com cerca de 7 mil ipês, entre espécies roxa, rosa, branca, amarela e, a mais rara, louro-pardo (ou verde). Originário do cerrado e da mata atlântica, o ipê é apropriado para a arborização urbana por possuir raiz pivotante, que cresce “para baixo” e não danifica as calçadas. 
 
O plantio, no entanto, é recomendado em locais onde não haja fiação elétrica, já que os exemplares podem chegar a cerca de 11 metros de altura. “É o caso do rosa e do roxo. Já o amarelo e o branco chegam a cerca de 8 metros”, complementa Cláudio Sampaio, diretor do departamento zoobotânico da Semma. 
 
De acordo com ele, os ipês se tornaram característicos em Bauru, porque, além de existirem em quantidade abundante em diversos bairros da cidade, costumam chamar a atenção pela beleza durante a florada, que ocorre no período de julho a setembro. “E, exatamente por ter flores muito bonitas e ter se adaptado bem ao ambiente urbano, continuamos plantando novas mudas constantemente”, pondera.
 
Por muito tempo, o ipê – que, em tupi-guarani, significa “árvore de casca grossa” - foi considerado a árvore nacional brasileira. Mas, no dia 7 de dezembro de 1978, a lei número 6507 declarou o pau-brasil a árvore nacional e, a flor do ipê, a flor do símbolo nacional. 

jcnet.com

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